Moradora do distrito de Mosqueiro, Cleide Nair Rodrigues Soares, de 28 anos, acorda às 3h, todos os dias, e embarca em um ônibus às 3h45 para chegar às 6h ao centro de Belém e assumir as tarefas que executa há dois anos: ela integra o exército de garis que, enfrentando Sol e chuva, mantém a cidade limpa. No Dia Internacional da Mulher, Cleide é exemplo de determinação. Depois de cuidar da cidade ela vai para a escola. O sonho é dar um futuro melhor para o filho. “No que depender de mim, ele vai ter”, garante.
“A vida é corrida, mas para tudo se tem que dar um jeito. Já que para ter alguma coisa temos que enfrentar alguns obstáculos. Devo ser o espelho para o meu filho e sigo lutando na vida para vencer”, afirma, emocionada.
A vida não é fácil. “No dia a dia passo por muito preconceito. As pessoas viram a cara e tapam o nariz. Sendo que nosso trabalho é muito digno. Nós limpamos a cidade, deveríamos ser mais valorizados pela própria população”, afirma Cleide. “Assim como também já passei por muitas situações constrangedoras por ser mulher. Situações tão pesadas e desagradáveis que prefiro nem contar. Mas sigo forte, ignoro e continuo fazendo meu trabalho”, revela.
O dia mundial em homenagem à mulher, que transcorre nesta terça-feira, 8, serve para lembrar a luta das mulheres por igualdade de direitos. Nesta data, em 1975, mulheres que trabalhavam na indústria têxtil protagonizaram protestos e Nova York contra as péssimas condições de trabalho e os salários reduzidos. Nos anos seguintes, muitos outros protestos se seguiram. Hoje, as mulheres seguem com a luta cotidiana e ocupam cada vez mais espaço social.
Eliana Silva de Sena, de 47 anos, é mãe do advogado Geraldo Junior e da estudante Angélica Sena. Moradora do bairro de Nazaré, ela divide seu tempo entre os afazeres de casa e o cuidado com a vida de pessoas que nem conhece. Seu trabalho de assistente social no HPSM – Hospital de Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, no Umarizal, a faz vivenciar diariamente “momentos únicos de pura emoção”. “Minha rotina é bem difícil. Antes de sair para o trabalho, deixo a casa toda arrumada e encaminho a caçula para a escola. Depois, sigo para o hospital, onde lido todos os dias com situações ora delicadas, ora satisfatórias”, conta.
“Como profissionais da saúde nos deparamos sempre com histórias comoventes e a que mais tocou meu coração ocorreu em maio de 2013, quando uma jovem de 21 anos foi trazida para cá, pela família, com morte encefálica”, lembra a assistente social. “Antes do diagnóstico, porém, sabíamos apenas que ela sentia fortes dores de cabeça e que nunca havia sido descoberto o motivo. Ela chegou aqui em um final de semana, depois de não conseguir leito em nenhuma unidade de urgência e emergência particular. O noivo dela a acompanhava, desnorteado. Fiquei pensando ‘tão novos e com uma vida já tão sofrida’. Foi um dia angustiante para todos do hospital”, recorda, emocionada, a assistente social. “Sigo essa profissão há 15 anos no PSM da 14 e essa foi a que mais me marcou. Como mãe e esposa, me coloquei no lugar dessa família e fiquei emocionalmente abalada naquele momento”.
“Para esse dia, desejo que todas as mulheres possam seguir a vida com força, coragem e fé. Isso é tudo o que precisamos”, diz ela.
No prédio da Fundação Cultural de Município de Belém (Fumbel) há outro exemplo de coragem e determinação. A técnica cultural Nair Laura Pereira de Góes, 55, servidora da Prefeitura de Belém há 25 anos, passou por uma das maiores batalhas de sua vida em 2013, quando foi diagnosticada com câncer de mama no seio esquerdo. “Precisei me afastar do trabalho para fazer o tratamento. Fiquei um ano e alguns meses cuidando da minha saúde e lutando contra a doença”, conta Laura.
Sem tirar o sorriso do rosto, a servidora ganhou forças para enfrentar a doença compartilhando seus momentos de vitória. “Enquanto Deus nos der oportunidades, temos que agarrá-las com toda força e realizar nossos objetivos. E foi isso que fiz. Fiquei curada e voltei ao trabalho e hoje quero levar a todos um pouco da minha contribuição na área cultural”, afirma Laura, que fez questão de ressaltar que “não tem tempo ruim” na sua vida: “Saio às 5h de casa. Se eu não conseguir carro, pego um ônibus e venho trabalhar. Não sinto dificuldade alguma por ser mulher, pelo contrário, sinto muito orgulho e acordo todos os dias pronta para continuar minha vida. Tenho um marido e uma família que me apoiam muito. E, isso é muito importante para toda a construção que nós fazemos em nosso caminho, é isso que nos sustenta”.
O sorriso nos lábios e o brilho nos olhos de Eliana, Cleide e Laura puderam ser explorados pela fotógrafa Tássia Barros. Funcionária da PMB há três anos, a jovem de 21 anos compartilha os sonhos de outras mulheres: um futuro com obstáculos vencidos e vitórias conquistadas. “Não há ninguém que seja capaz de dizer que não vamos conseguir”, afirma a fotógrafa, que participa nesta terça, a partir das 19h, no Sesc Boulevard, de um bate-papo sobre a questão de gênero e os desafios da profissão da mulher fotojornalista. “Já sofri preconceitos na profissão por ser mulher, mas isso nunca me desmotivou e nem foi razão para que eu deixasse de correr atrás de meus objetivos. “Que este dia nos inspire para ter mais força, coragem e foco em nossa vida”, deseja Tássia Barros.
Texto: Adriana Pereira
 
								 
															 
											 
								 
															 
								 
								 
								