Primeiro foram algumas secreções, depois a descoberta do nódulo na mama esquerda e uma grande preocupação tomou conta da dona de casa Iracema Miranda. Foi quando ela decidiu buscar um médico para identificar as causas. Aos 48 anos, foi a primeira vez que os sintomas apareceram, mas o atendimento no tempo certo foi fundamental para prevenir a formação de um tumor.
“Faço exames anualmente, mas há algumas semanas constatei que meu seio estava com um caroço e secreções, então fui em busca de um médico especialista para saber do que se tratava”, explicou a dona de casa. Ela já viveu de perto a experiência de perder a irmã, acometida pelo câncer do colo do útero, e não pretende passar pela mesma situação. “Foi um momento muito difícil, porque ela não teve tempo nem de fazer um bom tratamento. Quando descobrimos, a doença já estava avançada. Depois dessa experiência, qualquer suspeita já busco auxílio médico”, ressaltou.
No entanto, o alerta que levou a dona Iracema ao hospital, infelizmente não costuma ter a merecida atenção da maioria das mulheres. Dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), por meio do Núcleo de Apoio à gestão na Atenção à Mulher (Nagam), apontam que em 2015, 307 mulheres morreram em consequência do câncer de mama no Pará. Destas, 146 eram de Belém.
Como forma de prevenir a doença, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) disponibiliza mamografias; exames clínicos das mamas, realizados por profissionais de saúde nas Unidades Municipais de Saúde (UMS) e Unidades de Saúde da Família (USF); trabalhos educativos com equipe multidisciplinar; punção aspirativa – método rápido para retirada de células de nódulos através de uma agulha fina; cirurgia de nódulo mamário e biópsia.
“Destes serviços, o que mais chama atenção é que mesmo com a oferta gratuita dos exames não conseguimos atingir a população de mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos”, destaca a responsável técnica pela Política de Saúde da Mulher do Município de Belém, Camila Correa. Até outubro de 2015, das 44.520 mamografias de rastreamento realizadas, só 34% foram realizadas por mulheres de 50 a 69 anos. As demais faixas etárias representaram os 66% das mulheres que realizaram as mamografias de rastreamento.
De acordo com a técnica, apesar de crescente em mulheres com menos de 50 anos de idade, o número de casos de câncer de mama, estatisticamente, é maior na faixa etária entre 50 e 69 anos, período de maior incidência do aparecimento. “Precisamos alertar todas as mulheres sobre o risco dessa doença, que infelizmente já matou milhares de pessoas no mundo”.
Foi constatado que na capital paraense, as mulheres que não realizam mamografias, são principalmente aquelas que estão na faixa etária de 50 a 69 anos. “Para muitas destas mulheres, não há mais a necessidade de fazer o exame, porque já fizeram outras vezes e nunca foram detectadas lesões. Elas têm buscando menos auxílio médico e isso tem contribuído para a estatística aumentar”.
Para alertar as mulheres sobre a importância da realização da mamografia e informá-las que o diagnóstico precoce pode garantir até 90% de chances de cura, Camila garante que a Sesma vai intensificar as ações de saúde mensalmente, mas chama a atenção para o atendimento. “É importante lembrar que o Sistema Único de Saúde (SUS), por meio das Unidades de Saúde, garante o exame de mamografia para todas as idades, quando há indicação médica”.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estima-se que neste ano serão registrados 410 novos casos da doença, que lidera o ranking na capital paraense. “O câncer de mama tem cura, desde que seja tratado adequadamente e precocemente”, afirma o médico mastologista, Mário Simões, que realiza atendimentos na Casa da Mulher, em Belém.
A Casa da Mulher é referência em mastologia no município e atende diariamente mulheres dos diversos bairros de Belém, encaminhadas pelos Serviços de Saúde. “Infelizmente ainda registramos alguns casos de pacientes que procuram por atendimento tardio, ou seja, a procura não está sendo preventiva”, lamenta o especialista.
Mensalmente a Casa recebe 960 mulheres e, deste quantitativo, 20% são da região das ilhas. “A gente observa que elas vêm com assiduidade, mas têm casos que ainda esbarram na cultura do pudor, a vergonha em ser atendida por médicos homens, faz com que uma minoria na faixa etária acima de 50 anos evite fazer os exames, não só de mama, mas os preventivos ginecológicos também”.
Ainda de acordo com o especialista, é preciso chamar a atenção para o câncer da mesma forma que estamos alertando a população em relação ao Zika Vírus. “Se a sociedade der a mesma importância ao controle do câncer de mama e de colo de útero, a incidência destas doenças será certamente muito menor. É preciso dar destaque às questões preventivas”, enfatiza, ressaltando que as mulheres devem fazer regularmente os exames preventivos, de mamografias e vacinação contra o HPV.
Cuidados – Quando diagnosticados os casos de câncer, as mulheres assistidas pela Casa da Mulher recebem acompanhamento psicológico, com o objetivo de auxiliá-las no enfrentamento da doença.
Assim como qualquer tipo de câncer, quando as pacientes são diagnosticadas com um tumor, elas passam por processos de dúvidas e, na maioria dos casos, ficam fragilizadas. É nesta fase que o suporte emocional da família se torna fundamental. “A maioria das pacientes recebem o diagnóstico da pior maneira, e o medo de perderem o apoio da família e do cônjuge é grande, por isso fazemos o acompanhamento. Além disso, encaminhamos elas para o Hospital Ophir Loyola, para a consulta e tratamento”, esclarece a médica psicóloga, Lucicleide Furtado.
Semana da Mulher
Para chamar a atenção das mulheres e conscientizar a população quanto à necessidade de cuidar preventivamente da saúde, a Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria de Saúde, realiza uma vasta programação durante a semana, que vai de 7 a 11 de março.
As Unidades Básicas de Saúde estarão com programações voltadas para a saúde da mulher, com ofertas de exames preventivos de câncer de colo de útero; exames clínicos das mamas; testes rápido de HIV Sífilis e Hepatite C; Consultas de pré-natal; consultas médicas e de enfermagem; consultas com equipes dos núcleos de apoio a saúde da família (NASF), vacinas contra o HPV; orientações nutricionais e odontológicas; ações de planejamento familiar; palestras sobre violência doméstica e atividades com escolas através do Programa Saúde na Escola e equipes do Núcleo de Apoio a Família (NASF). No sábado, 12 de março, algumas unidades básicas de saúde realizarão exames preventivos na tentativa de facilitar que as mulheres trabalhadoras consigam realizar seu exame.
Além destas atividades, os gerentes das unidades municipais de saúde, suas equipes e os profissionais das equipes de saúde da família, realizarão ações de integração com a comunidade por meio de caminhadas; atividades de estética com Corte de cabelo e maquiagem; dança; aula de ritmos, apresentação de coral de mulheres da terceira idade e Emissão de cartão SUS.
Texto: Karla Pereira