Cinema Olympia chega aos 103 anos como espaço de fomento à cultura

Considerado o mais antigo cinema em atividade do país, O Cine Olympia completa 103 anos nesta sexta-feira, 24, e desperta nostalgia entre apaixonados pela sétima arte. Ponto de encontro da alta sociedade paraense no período áureo da borracha, o espaço exibia as grandes produções em preto e branco, vindas direto da Europa para dentro da Amazônia.

Pedro Veriano, jornalista, crítico e pesquisador de cinema, foi um dos principais defensores do Cine Olympia durante as seguidas ameaças de fechamento, principalmente em 2006, quando chegou a ter as atividades encerradas e foi assumido pela prefeitura de Belém.

Veriano fala em seu blog da relação que estabeleceu, ainda criança, aos sete anos, com o cinema. “Nessa idade fui pela primeira vez ao Cine Olympia. Morava perto da Praça da República. Ainda se chamava Largo da Pólvora. Em princípio, era levado por minha madrinha Odete. Íamos especialmente às matinais domingueiras. Depois, já adolescente, botava moedas no bolso e rumava também nas tardes para ver qualquer coisa que me chamasse atenção”, conta Pedro.

“Ás vezes estou ministrando cursos sobre cinema e muitos alunos perguntam se o cinema fechou. Desconhecem a história da cidade e a relevância que o Olympia tem ainda hoje”, lamenta o programador e membro do comitê gestor do Cine Olympia Marco Antônio Moreira, que afirma ser impossível falar de sua afinidade com a sétima arte sem contar um pouco de sua trajetória no Olympia, que considera importante patrimônio histórico da capital.

“Minha vida pessoal e profissional foi muito vinculada ao Olympia. Eu tenho uma história com o cinema, escrevo sobre cinema desde os 14 anos, por influência do meu pai, que também escrevia e possuía um círculo de amizade permeado por críticos, então fui envolvido desde pequeno com o assunto”, relembra Marco Antônio.

Com mais de um século de atividades e muitas reformas depois, detalhes arquitetônicos da estrutura original do Olympia estão mantidos, como características em art déco nas paredes internas e o acesso à sala de exibição, feito por entradas por baixo da tela. O mesmo não se pode dizer sobre a parte externa, que teve fachada toda modificada, ainda assim, guarda encantamento que mantém centenas de admiradores.

Nazaré Morais é gerente do Cine Olympia desde 2007. Conta que assumiu a gestão como um grande desafio, já que os cinemas de rua sofriam uma crescente perda de público, frente às grandes salas instaladas em shoppings com programação comercial, facilidade de acesso, plataforma com transmissão online de conteúdo audiovisual. Isso motivou a equipe a redefinir o papel do espaço – que deixou de ser apenas um cinema – para consolidar-se como centro de propagação de cultura, por meio de diversos projetos que incentivam o interesse não só pela história do local, mas também pela história do cinema mundial e da cidade de Belém.

“Encontrei aqui uma equipe alinhada com essa missão, de transmitir conhecimento, história. Temos cinco projetos principais acontecendo, como o Cinema Olympia Itinerante, que nos permitiu chegar à região ribeirinha, proporcionando experiências únicas para pessoas que não têm acesso”, explica Nazaré.

De acordo com ela, a intenção é formar novos apreciadores da arte, por meio de filmes que contribuam para o desenvolvimento do senso crítico. Outro projeto destacado pela gerente é o Cinema na Escola, que leva estudantes para conhecerem a história do cinema e já alcançou 60 mil alunos.

“Um lugar de lembranças para tantas pessoas, que ainda tem muito para ensinar à nova geração de apreciadores. É um prazer poder trabalhar onde o conhecimento não tem fronteiras. Para mim, o Cinema Olympia é um templo”, emociona-se Nazaré.

Prefeitura comemora 103 anos do Cine Olympia

Nesta sexta-feira, 24, a Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel) promove uma programação especial para comemorar os 103 anos do Cinema Olympia. Uma das atrações é a exposição que conta a trajetória do cinema mais antigo em atividades no Brasil. Também haverá apresentação de músicos da Escola Carlos Gomes durante a abertura das exibições de clássicos da comédia que fizeram parte dos grandes momentos da casa.

O evento começa às 17h30 com a exposição “Olympia, um patrimônio cinematográfico”, das artistas Marília Mello, Michelle Quadros e Vânia Santos, que trazem quadros e pinturas inspiradas nos 103 anos do cinema.

Seguindo a programação, a Escola de Música Carlos Gomes trará um repertório com as trilhas sonoras de grandes produções cinematográficas. Logo após o concerto, haverá a exibição dos clássicos “O Gordo e o Magro”, “Os Três Patetas” e “Charles Chaplin”, encerrando a festa.

Programação de aniversário Cine Olympia

17h30 – Exposição “Olympia, um patrimônio cinematográfico”

18h – Apresentação dos Músicos da Escola Carlos Gomes

18h30 – Exibição dos filmes: “O Gordo e o Magro”, “Os Três Patetas” e “Charles Chaplin”

Texto: Karol Amaral

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