"Já sou frequentadora do Cine Líbero e fiquei interessada pela temática do curta. Acho que é importante a sociedade saber sobre racismo e genocídio da população jovem". O comentário é de Maria Paixão, 59 anos, após acompanhar a exibição do curta-metragem "Poderia ter sido você”.
O filme, produzido em 2014 pelo Coletivo Tela Filme, relembra as chacinas de jovens negros ocorridas nas periferias de Belém, com depoimentos e encenações. Entre os casos abordados, o das 11 pessoas assassinadas na madrugada do dia 05 de novembro de 2014 e o dos seis adolescentes mortos por um ex-policial militar, no Distrito de Icoaraci, em 2011.
A sessão especial, parte da programação do Novembro da Consciência Negra, promovida ao longo deste mês pela Prefeitura Municipal de Belém, ocorreu na noite desta segunda-feira, 8, no Cine Líbero Luxardo, localizado no Centro Cultural Tancredo Neves (Centur).
O vice-prefeito de Belém, Edilson Moura, acompanhou a exibição do curta-metragem e ressaltou que a população, principalmente os jovens que residem nas periferias, continua sofrendo com a violência. "O curta traz os problemas da periferia na cidade de Belém. A maioria da população negra continua sofrendo com a violência em todos os sentidos. A prefeitura vem trabalhando políticas públicas para ajudar as pessoas que residem nessas áreas".
Muitos jovens que moram no bairro da Terra-Firme, local onde ocorreu a chacina de 2014, participaram das gravações do filme. Segundo Francisco Brito, roteirista do curta, o filme retrata não só a chacina de Belém, mas de outras ocorridas na região metropolitana.
"Após o ocorrido, nos sentimos provocados em fazer um filme sobre esse tema. Tivemos mais de 12 pessoas envolvidas em todo o trabalho, para tentar fazer um resgate de todas as chacinas desse período. Infelizmente fomos a capital da chacina", frisou.
Do luto à luta – Após a sessão, os espectadores participaram de uma roda de conversa intitulada "Do luto à luta: enfrentamentos ao genocídio da juventude negra". Mãe de uma das vítimas da chacina na Terra Firme, Suzana Amaral participou da conversa. Criadora do Instituto Megas Kamaradas, ela usou a sua experiência para ajudar outras famílias que passam pela mesma dor.
"A importância é tentar combater essa prática de crime, o que ainda acontece muito e de uma forma que muitos casos não viram processo judicial, com isso as mães não sabem o que fazer. A nossa política é levar informação às famílias para ajudar em todo o processo", explicou.
Para o titular da Secretaria Extraordinário de Cidadania e Direitos Humanos (SecDH), Max Costa, a discussão sobre o genocídio da população negra é sempre necessária. "Queremos levar a discussão sobre um tema importante, que é o genocídio da população negra. A intenção é promover reflexões, mostrar que não é uma situação natural e que a Prefeitura está comprometida a mudar esse cenário".
A programação do Novembro da Consciência Negra segue com uma grande programação até o final do mês com diversas ações. "Estamos buscando arduamente ações concretas para mudar a vida da população. Para nós, é importante colocar essa pauta da questão racial e com um mês para essas atividades", explicou Elza Rodrigues, titular da Coordenadoria Antirracista de Belém (Coant).
Texto: Victor Miranda
 
								 
															 
											 
								 
															 
								 
								 
								