Entre 2% e 5% das crianças em todo o mundo desenvolvem Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV), de acordo com estudo conjunto da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, Sociedade Brasileira de Clínica Médica e Associação Brasileira de Nutrologia. Em Belém, cerca de 250 crianças são atendidas pelo Programa de Alergia Alimentar (PAA) da Secretaria Municipal de Saúde. O programa é pioneiro no estado do Pará e está sob a coordenação da Referência Técnica de Nutrição e execução da Unidade Municipal de Saúde do bairro de Fátima.
A alergia à proteína do leite de vaca é um problema comum em crianças na primeira infância, com as primeiras manifestações sintomáticas durante os primeiros seis meses de vida. A alergia é transitória e o tempo de cura depende da gravidade do quadro clínico de cada criança. Os principais sintomas são diarréia, coceira, vermelhidão na pele, sangue nas fezes, tosse, secreção, falta de ar e feridas anais.
De acordo com a coordenadora municipal de Nutrição da Sesma, Thaís Granado, o PAA está sendo realizado no município desde 2006 e é composto por uma equipe multidisciplinar (assistente social, gastropediatra e nutricionista). O programa obedece à Portaria Municipal 229/10, que estabelece esse atendimento a crianças de 0 a 36 meses, residentes em Belém e que tenham sido diagnosticadas por um gastropediatra do SUS.
Além do atendimento multiprofissional, que varia conforme a necessidade de cada criança, o Programa de Alergia Alimentar também entrega mensalmente fórmulas nutricionais, que podem ser à base de aminoácidos livres, hidrolisados com ou sem lactose ou soja. “Cada paciente recebe a quantidade de acordo com a avaliação nutricional, que leva em conta o estado de saúde de cada criança, idade e introdução de novos alimentos na dieta”, explica Liane Lopes, assistente social da UMS Fátima.
Segundo Thaís Granado, o protocolo atual da Sesma está sendo atualizado e deve acompanhar o resultado da consulta pública realizada pelo Ministério da Saúde em outubro do ano passado. “Até maio deve ser publicada a portaria que irá definir a normatização do fornecimento de fórmulas dentro do Sistema Único de Saúde. Atualmente, o município de Belém compra todas as fórmulas com recursos do tesouro municipal”, explica.
Alan Massaki, pai de Henrique, conta que o filho foi diagnosticado tarde com alergia alimentar, mas, a partir do momento que iniciou o tratamento na Unidade de Saúde, com acompanhamento contínuo e orientações adequadas, a família se adaptou à realidade da criança e modificou seus hábitos para que o menino pudesse caminhar rumo à cura. “Meu filho já teve alta do programa e hoje é uma criança saudável, que come bem. Me emociona falar da nossa luta, mas é preciso que os pais tenham paciência, que isso é passageiro. O programa melhorou muito nos últimos anos e nossos filhos estão com ótimos profissionais”, conta.
Pais recebem orientações
O diagnóstico de alergia alimentar tem grande impacto sobre a família, pois tem influência no convívio social e na própria rotina. De acordo com a nutricionista Lorena Falcão, o tratamento depende do empenho da família. “Esse momento precisa ser o mais natural possível. Nós entendemos e acompanhamos os sofrimentos dos pais. Também sofremos, mas buscamos sempre as melhores respostas para o momento de cada um”, diz.
A nutricionista também alerta os pais que a introdução de alimentos na dieta da criança, quando autorizada pelo profissional de saúde, é um grande estímulo para o desenvolvimento da criança e também uma forma de inclusão social. “O suporte da fórmula é essencial, mas precisamos estimular a inclusão de outros alimentos. Mesmo que a criança tenha alta do programa, temos que incentivar a alimentação saudável. Assim estaremos promovendo a segurança alimentar e dando a esta criança os nutrientes que ela realmente necessita”, frisa.
O programa também realiza reuniões com os pais. A última ocorreu nesta terça-feira,24, na Universidade da Amazônia, com a presença de quase 50 pessoas. Foram apresentadas as diretrizes do programa e esclarecidas dúvidas da maioria presente.
Alunas do curso de Nutrição da Unama, Mayara Rocha, Elaine Pinheiro, Rossilvia Tocantins, Daise Andrade e Ana Paula Paixão, apresentaram aos pais receitas alternativas para diversificar a alimentação das crianças com alergia alimentar, como brigadeiro de biomassa, sanduíche de pão integral com patê de cenoura, suco de couve com maracujá e papinha regional (manga, tapioca e uma fruta à escolha).
As receitas foram aprovadas pelos pais e profissionais da Sesma. “A criança com APLV tem uma monotonia alimentar. Precisamos incentivar o consumo de outros alimentos além da fórmula nutricional. Apresentar um bom alimento, que estimule, já é um grande passo. Os pais também devem se habituar a ler rótulos”, enfatiza Lorena Falcão
Texto: Paula Barbosa
 
								 
															 
											 
								 
															 
								 
								 
								