Argila vira fonte de renda e artigos de luxo nas mãos de artesãos em Icoaraci

Acorda na primeira luz do dia. Arruma e limpa a loja. Pontualmente, às 8h da manhã o comércio já está aberto e pronto para receber os clientes. Turistas, moradores da capital paraense, e de outros Estados, entram e se impressionam com as peças produzidas. Vasos, pratos, quadros e esculturas, todas bem trabalhadas, com detalhes que as diferenciam uma das outras e, de modo singular, cada um com sua história para contar. Essa é a rotina diária da profissão do artesão José Anísio da Silva, de 68 anos.

Há 37 anos seu José repete essa rotina. Se ele gosta de tudo isso? A resposta é imediata: “Adoro minha profissão, sinto que esta é uma atividade muito rica e importante para nossa cultura”, diz.

Nesta quinta-feira, 19, comemora-se o Dia Mundial do Artesão, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), e é o dia em que celebra-se, também, São José Carpinteiro. Artesão é a designação para quem faz trabalhos manuais e com materiais diversos, como sementes, miçangas, tecidos, cerâmica e madeira, além de materiais recicláveis como garrafas PET e vidro.

No dia do artesão, não à toa a rotina de seu José foi citada. Mestre Anísio, como também é conhecido, é uma das maiores referências quando se fala em cerâmica marajoara e tapajônica. A loja e atelier do empresário, fica localizada na travessa Soledade, no bairro do Paracuri, distrito de Icoaraci, em Belém, local que abriga cerca de 90% de toda a comunidade de ceramistas, distribuídos entre oficinas e olarias.

Centenas de postos de trabalho, diretos e indiretos, são gerados pela cerâmica. Por isso, o trabalho do artesanato não está apenas configurado no artesão, ou seja, há outros elementos envolvidos nesta atividade.

Josivaldo dos Santos, de 45 anos, não produz vasos e nem tem loja, mas ele é peça fundamental na produção dos artigos, que chegam a custar na loja de seu Anísio, entre R$ 10,00 a R$ 8.000,00. Josivaldo é um dos responsáveis pela venda e distribuição da argila, matéria-prima da cerâmica na loja de Mestre Anísio e de dezenas de outros artesãos da comunidade.

Entenda a produção

Antes da argila chegar às olarias local destinado a produção de objetos que utilizam o barro ou argila como matéria-prima – barqueiros, como os da equipe de Josivaldo saem em canoas para extrair o produto nas áreas de várzeas próximas ao canal do Paracuri ou no entorno do distrito. Em seguida, já em um galpão na travessa Soledade, são retiradas as raízes encontradas na argila trazida e todas as sujeiras que vem junto com o produto.

Com a argila limpa, o vendedor, então, corta e a separa em blocos para oferecer ao comprador. Cada bloco é vendido por até R$ 3,00 e pode ser usado para a produção de um ou mais produtos, de acordo com o tamanho do artigo. O preço de cada bloco varia, ainda, de acordo com o período do ano, nesta época, por exemplo, de forte chuva na capital, “a maré alta dificulta o trabalho do barqueiro e isso pode encarecer o valor da matéria-prima”, afirma Josivaldo.

O trabalho de Josivaldo, que se considera também um artesão, é a fonte de renda dele e da família, formada por esposa e um filho. “Daqui eu tiro meu sustento e vivo bem”, afirma sorridente.

Investimentos

A Prefeitura de Belém vem realizando ações de infraestrutura com o objetivo de mudar o cenário tanto para os artesãos que trabalham no bairro do Paracuri, quanto para os moradores que vivem no local. As obras coordenadas pela Secretaria Municipal de Habitação (Sehab), envolvem uma ação conjunta das secretarias de Saneamento (Sesan), Urbanismo (Seurb), Meio Ambiente (Semma), Economia (Secon), e Coordenadoria de Turismo (Belemtur), além da parceria com a Agência Distrital de Icoaraci (Adic).

Até o ano passado, o bairro registrava constantes pontos de alagamentos e, consequentemente, prejuízos para os artesãos, pois com ruas alagadas e sem condições de trafegabilidade, o fluxo de clientes e turistas na área,reduziu . Em visita realizada nesta quarta-feira, 18, ao distrito, o titular da Sehab, João Cláudio Klautau, pontuou os serviços já realizados pela PMB e explicou quais serão os próximos trabalhos a serem feitos. Na travessa Soledade, a população já foi beneficiada com os serviços de drenagem, meio fio, calçada, estacionamento para linha de ônibus e sinalização turística.

“Passaremos a fazer agora o que só podia ser feito após o trabalho de drenagem, que é o lado turístico desta área”, explica Klautau. “Não tem como trazer um turista sem que haja uma boa calçada ou pista para ele trafegar”, continua.

O objetivo da Prefeitura é, além de desenvolver o projeto de macrodrenagem do canal do Paracuri – que já está em fase de conclusão –, reerguer o turismo de Icoaraci, valorizando primeiramente os artesãos, que tanto contribuem com a cultura da região.

Kezia Viegas, de 25 anos, já vê os benefícios trazidos com as obras executadas pela Prefeitura. “A rua que antes enchia quase todos os dias, já não enche mais. Nossa calçada fica limpa, sem a lama que antes formava depois que chovia”, lembra a jovem que tem uma loja de artesanato. “Sem o alagamento e com o investimento da prefeitura, os turistas voltaram a frequentar as lojas, e com isso minha expectativa aumenta muito, já que daqui tiro meu sustento e da minha família”, desabafa a comerciante.

< Texto: Adriana Pereira

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