"A missão de ser Guarda Municipal feminina traz grandes desafios, além de externar nossa força, determinação e, principalmente, superação”, destaca a inspetora operacional Gracilene da Costa Lobato. No quadro da Guarda Municipal de Belém (GMB) há 30 anos, Gracilene, que ocupa cargo de chefia, como supervisora de posto, entrou na segunda turma de concursados, em 1992, seis meses após a primeira turma.
“A responsabilidade de ser mãe e sustentar uma família me fez entrar na guarda. Já percorri um grande caminho dentro da GMB e enfrentei, por ser mulher, muitos desafios, como o militarismo, para provar ser capaz e dar conta do trabalho; os riscos que a profissão proporciona; e ainda me defrontar com o machismo e provar que somos capazes e necessárias para o trabalho de levar segurança para a população”, contou.
Presença de mulheres na corporação ocorreu desde o ano do primeiro concurso – Em 1991, das 150 vagas ofertadas 30 foram destinadas ao sexo feminino. Atualmente, 170 servidoras integram o quadro da Guarda Municipal de Belém.
"Com personalidade e firmeza, elas deixam seus lares e se dedicam ao trabalho de proteger e servir a população belenense", lembra a inspetora Gracilene.
O trabalho realizado pelas servidoras pode ser visto nos Grupamento de Ações Táticas (GAT), Ações Táticas com Cães (Atac), Ronda da Capital (Rondac), Ronda Ostensiva Municipal (Romu) e Operacional, nos quais, com dedicação e empenho, desempenham atividades administrativa, ostensiva e tática de rua, no pronto emprego, nos postos de serviços, pilotando viaturas, motos e embarcações.
Concursada na última turma, em 2012, a GM Aline Silva, 35 anos, antes de prestar o concurso para ingressar na instituição, era auxiliar de laboratório, em uma universidade do estado do Pará.
Aline, que tem formação em Gestão Pública, diz que entrar na corporação não fazia parte dos planos. “Lendo o jornal vi que estavam abertas as inscrições para o concurso da GMB, com o salário bem melhor que o meu e resolvi tentar. Estudei e passei, e hoje me vejo apaixonada pelo que faço”.
Destaque – A servidora sempre se destacou nos cursos de capacitação, entre eles, pioneira e primeiro lugar no curso de piloto de embarcação. Ao longo de sua carreira, já passou por vários setores da instituição.
"Tento me superar e, ao mesmo tempo, mostrar que nós, mulheres, somos capazes, fortes e necessárias para trabalhar no que quisermos. Nossos desafios são semelhantes aos dos homens e o fato de ser mulher não me diminui em nada, muito pelo contrário, me estimula”.
Aline Silva já foi moto patrulheira, segurança do executivo, operacional em posto de serviço e atualmente atua como motorista do Grupamento Ronda Ostensiva Municipal. “Gosto do serviço de rua e as adversidades não me limitam por ser mulher”, garante.
Estabilidade – Com 26 anos de serviços prestados, a inspetora Katia Regina Teixeira está lotada na Divisão de Administração e atua no serviço burocrático da Guarda Municipal. Ela destaca que a instituição trouxe estabilidade financeira.
“Os desafios encontrados na profissão são muitos, porém estimula e motiva a buscar a excelência. Fiz o concurso, assim como outros colegas de turma, sem ter a noção das atribuições do cargo, mas queríamos a estabilidade financeira que o concurso atribuía. Confesso que o mais difícil para nós é conciliar as escalas de serviço com a criação dos filhos e afazeres domésticos".
Regina ainda destaca que nunca se sentiu menosprezada dentro do trabalho por ser mulher. “Apesar de mais de 75% do efetivo ser composto por homens, sempre fui tratada com respeito”, destacou.
Atenção – Para garantir a proteção das servidoras, em março de 2021, no mês das mulheres, o comando da instituição criou o Núcleo de Atenção à Guarda Feminina (NAGF), com o objetivo atender às servidoras da instituição, vítimas de algum tipo de violência, seja ela física, psicológica, moral, sexual ou patrimonial.
Completando um ano de criação, o NAGF já rendeu frutos e desenvolveu diversos trabalhos, com palestras, rodas de conversas, recreação, atendimentos, entre outras atividades, resultando no resgate dessas servidoras, com a procura de atendimento, acolhimento e visita domiciliares.
“Estamos percorrendo e amadurecendo. O enfrentamento hoje é contra todo tipo de agressão às mulheres, principalmente institucional ", explica a coordenadora do NAGF, inspetora Maria José Patrício.
SOS Mulher – Outro atendimento importantíssimo realizado pela Guarda Municipal de Belém em combate à violência doméstica no município é o Programa SOS Mulher, um aplicativo criado após assinatura de um Termo de Cooperação entre a GMB e o Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA), em 2016.
Atualmente, 11 mulheres são beneficiadas com o aplicativo, que funciona como um Sistema de Monitoramento (SIM) 24 horas, para atender as vítimas, caso o agressor descumpra medidas protetivas determinadas pelos juízes das Varas de Violência Doméstica. A GMB ressalta que o programa esta passando por uma reformulação, com o intuito de ampliar o atendimento e abraçar outras causas.
Para ter acesso ao SOS Mulher, as vítimas são acolhidas e selecionadas pelos juízes das Varas de Violência Doméstica e incluídas, caso aceitem, no programa de monitoramento. A beneficiária recebe um aparelho celular que, uma vez ligado, passa a ser monitorado 24h por dia pela Central de Controle da GMB.
Parceria – A Guarda Municipal, em parceria com outras instituições da segurança pública, vai fazer parte da Operação Pro-Mulher Pará, que será lançado nesta terça-feira, 8, pela Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup).
A corporação vai realizar patrulhamento especifico para atendimento especializado das ocorrências e atendimentos preventivos, envolvendo violência doméstica contra mulher, por meio de viatura específica e caracterizada.
Denúncia – A corporação também disponibiliza um canal de denúncia, para qualquer mulher ou pessoas que tiverem conhecimento de violência doméstica. A ligação é gratuita e pode ser feita pelo número 153.
Texto: Thais Veiga
