"Acho uma boa para mim e meus amigos que moram na rua voltar a estudar. Tenho até a 8ª série, sei ler e escrever, mas de vez enquanto engulo uma letra", contou o desenhista de letras Arnaldo Pinto Matos, 53 anos. A declaração dele foi dada ao tomar conhecimento do piloto das turmas de alfabetização do Centenário de Paulo Freire, desenvolvido pela Secretária Municipal de Educação (Semec), em parceria com a Fundação Papa João XXIII (Funpapa).
Ele foi resgatado há cinco anos pelo Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (Centro POP), em Icoaraci, e lembra que deixou a escola aos 15 anos, após a perda do pai.
Desencantado com a vida tornou-se andarilho e aos 20 anos reencontrou a mãe em Belém, o que o motivou a voltar a estudar. Mas com dificuldade de conciliar o estudo com o trabalho surgiram as angústias, levando-o novamente às ruas.
Agora, Arnaldo começou a escrever uma nova história. Ele é um dos alunos da primeira turma do projeto de alfabetização, que teve a aula inaugural realizada nesta quarta-feira, 29, atendendo 20 pessoas em situação de rua acolhidas no Centro POP.
"Graças ao Centro Pop tenho todos os meus documentos, já arranjei emprego com carteira assinada e abriram muitas portas pra mim. Agora, com a acolhida do centro, vou voltar a estudar", disse Arnaldo, que deseja fazer a faculdade para ser artista plástico.
Programa de Alfabetização de Belém
Por meio da Portaria Conjunta nº 001/2021, que trata sobre a programação do “Centenário de Paulo Freire”, patrono da educação brasileira, a Semec tem como meta alfabetizar mais de 11 mil pessoas e tornar “Belém, cidade alfabetizada e educadora”, a partir de um trabalho conjunto com órgãos da administração municipal, universidades e organizações da sociedade civil.
A intenção é compartilhar as diretrizes para fortalecer o legado deixado pelo educador e filósofo para o pensamento pedagógico mundial e reafirmar o compromisso da nova gestão municipal com a educação. "Queremos que todas as pessoas em Belém aprendam a ler e escrever", disse a secretária de Educação, Márcia Bittencourt.
Durante o evento, a secretária de Educação procurou saber a história de vida dos participantes da turma. "Vocês têm memórias e histórias de vida maravilhosas para contar e queremos que escrevam essas histórias para um livro, como resultado dessa primeira turma de alfabetização”. A expectativa, segundo ela, “é que vocês saiam daqui e consigam seguir na escola para concluir o ensino fundamental, médio e mudar de vida”.
A acolhida dos alunos da primeira turma do projeto foi feita pelo educador Dirceu Duarte. "É um momento muito precioso para todos nós, é um sonho, que precisamos ter, alimentá-lo e realizá-lo. Vocês falaram coisas maravilhosas e todas são possíveis e estamos aqui pra ajudá-los neste processo, estamos aqui para acolher cada um de vocês".
O plano de aula da turma conta com oficinas de arte, com o professor arte educador Otávio Castro que trabalha a arte e o resgate da condição humana.
Texto: Tábita Oliveira
 
								 
															 
											 
								 
															 
								 
								 
								