Primeira turma do Movimento Alfabetiza Belém recebe certificados

"Livros na mão pra fazer revolução! Educar é ato de amor. Leitura nos liberta do poder do opressor". A frase ecoou e marcou o público que prestigiou, na manhã desta quinta-feira, 16, a entrega de certificados para dezenove homens e uma mulher, da primeira turma do Movimento Alfabetiza Belém. Os alunos se encontravam em situação de rua e viram o sonho da alfabetização se tornar realidade.

O projeto é executado pela Prefeitura de Belém, por meio da Coordenação de Educação de Jovens, Adultos e Idosos (Coejai), vinculado à Secretaria Municipal de Educação (Semec). O evento ocorreu no auditório do Centro de Ciências Naturais e Tecnologia, da Universidade do Estado do Pará (Uepa), no bairro do Marco.

Os alunos certificados são atendidas pelo Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) da Fundação Papa João XXIII (Funpapa), localizado em Icoaraci.

DIreito básico – Aos olhos da sociedade, a conquista da leitura e escrita pode ser algo simples e normal, vivenciada ainda na infância. Mas para muitas pessoas esse direito básico, de saber ler e escrever, só pôde ser vivenciado na fase adulta. Por isso, ler e escrever acaba se tornando um sonho, e para muitas pessoas é um sonho distante e até quase impossível, para jovens, adultos e idosos, principalmente os que se encontram em situação de rua.

Para o seu Arnaldo Pinto Matos, 53, o desafio de estar em situação de rua nunca destruiu o sonho de se tornar um desenhista e pintor profissinal. Ele está entre as vinte pessoas, que receberam o certificado de alfabetização.

"É um sonho que tô realizando", contou Arnaldo, que quando criança chegou a fazer o início do ensino fundamental. "Agora eu quero mudar de vida e estudar. O próximo que eu quero realizar é ter o meu diploma de desenhista e ser artista plástico", contou emocionado.

Há cinco anos, ao longo da semana, Arnaldo vai ao Centro Pop para tomar banho, guardar as roupas e se alimentar, mas, à noite, ele dorme, ou pelo menos tentar dormir, no entorno da Orla de Icoaraci. Ele comenta que é um desafio estar nas ruas e revela que "essa ação da Prefeitura é muito importante, para as pessoas que vivem na rua, que geralmente não tem ninguém e não tem estudo".

Foi das mãos do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, que o Arnaldo recebeu, com alegria, o primeiro certificado de sua vida. A entrega foi celebrada com muitos aplausos.

O seu Carlos Alberto Santos, 60 anos, foi o segundo a receber do prefeito o certificado. Para Carlos, o certificado é mais que um simples papel, "é um sonho realizado". Ele conta ainda que, a partir da realização dos estudos, ele voltou a visitar a família. "Eu aproveitei a oportunidade que prefeito me deu. Agora o meu sonho é de ser advogado" e conclui com frase do patrono da educação brasileira, "o estudo muda as pessoas. E as pessoas mudam o mundo".

Força-tarefa para a cidade alfabetizada – Desde do início deste ano, a Prefeitura de Belém faz uma força-tarefa para tornar Belém uma cidade alfabetizada, educada, leitora e com infraestrutura de qualidade e inclusiva. O objetivo é alcançar a meta, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semec), de alfabetizar mais de 11 mil pessoas.

O prefeito Edmilson Rodrigues, acompanhado da titular da Semec, Márcia Bittencourt, emocionado, antes de iniciar sua falar, indicou para que o jovem estudante Antony Sena, 14, concluinte do ensino fundamental da escola municipal Honorato Filgueiras, bairro do Jurunas, iniciasse a fala aos que estavam presentes na cerimônia.

Antony é pesquisador de asteróides, reconhecido pela Nasa. "Eu não vejos apenas crianças, jovens e adultos. O que eu vejo são futuros advogados, professores e pesquisadores", revelou o jovem, que, durante a cerimônia, recebeu cheque de R$ 5.000 (cinco mil reais) e um computador, para dar suporte aos estudos.

Futuro alfabetizado – Com alegria, o prefeito de Belém comentou que "os sonhos precisam dos indivíduos, mas os sonhos se realizam com um esforço individual". "Eles se realizam de forma mais plena, se esse voo é feito por vários pássaros. Apesar da pandemia, cada pessoa aqui apreendeu a ler os livros e aprendeu a ler uma perspectiva revolucionária. São sinalizações de um futuro lindo, feliz e alfabetizado".

O prefeito Edmilson Rodrigues ainda comentou que "O futuro é possível. Levantem os livros de vocês! São essas ferramentas que vão fazer de vocês médicos, advogados, arquitetos", disse.

As crianças alfabetizadas este ano, com aulas remotas, das escolas municipais Milton Monte (Ilha do Combu), Walter Leite (Mangueirão), Pedro Demo (que atende crianças Warao, em Outeiro), Francisco de Assis (escola bilíngue, na Cremação) ganharam um brinde com livros de historinhas infantis, lápis e borracha.

Já a primeira turma do Movimento Alfabetiza Belém, que iniciou a aulas em setembro deste ano, será encaminhada para dar continuidade aos estudos. Todos serão matriculados na Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJAI).

É possivel alfabetizar – "Hoje temos o evento da conquista da escrita e da leitura. Não é uma formatura, porque eles não encerram um nível de ensino. Mas eles aprenderam a ler e a escrever. Essa primeira turma da cidade alfabetizada é uma turma piloto, de pessoas em situação de rua. Eles fizeram oficina de artes e viveram com a gente esses três meses de intensidade das ações da Secretaria. Eles aprenderam a ler no método freiriano. Hoje, eles recebem o certificado. Então, é possível alfabetizar. Essa turma é muito primorosa porque é a primeira do nosso grande Movimento Alfabetiza Belém, no qual vamos alfabetizar 11 mil pessoas na cidade", frisou a titular da Semec, Márcia Bittencourt.

O professor da primeira turma do Movimento Alfabetiza Belém, Dirceu Duarte, expressou a emoção de fazer parte do sonho de cada um dos 20 estudantes. "Desde o primeiro momento ficou muito forte pra mim a palavra sonho. Nesse sentindo foi muito gratificante ouvir deles que a vontade era de retomar à escola e de acreditar em si", disse o professor.

Prefeitura de Belém e Paulo Freire – Em 1º de fevereiro, a Prefeitura de Belém publicou a portaria conjunta nº. 001/2021, instituindo a programação em alusão ao Centenário de Paulo Freire, patrono da educação brasileira. Em 1963, o pedagogo Paulo Freire aplicou seu método, pela primeira vez, com 300 pessoas de Angicos, no Rio Grande do Norte. Essas pessoas eram trabalhadores da cana-de-açúcar sem nenhum tipo de contato com escolas tradicionais e que foram alfabetizados em extraordinários 45 dias.

Texto: Joyce Assunção

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