Para levar cultura e experiências para a comunidade surda, a Secretaria Municipal de Educação (Semec), por meio do Centro de Referência em Inclusão Educacional (Crie) Gabriel Lima Mendes, promoveu nesta quarta-feira, 22, o VII Festival da Cultura Surda.
O evento foi transmitido pelo canal do Crie, no YouTube, e também buscou reforçar o protagonismo das pessoas surdas em suas lutas diárias.
A professora Isabel Abrahão e o professor surdo Thiago Costa, ambos do Programa Bilíngue, que atende os alunos surdos da rede municipal de ensino, foram os mediadores do evento, que contou com a tradução na Língua Brasileira de Sinais (Libras). A banda Na Cúria abriu a programação com a canção Boi da rua, interpretada por Silvane Brasil.
A secretária de Educação, Márcia Bittencourt deu as boas-vindas aos participantes, destacando que assim como Paulo Freire, patrono da educação, dizia que a palavra deve ser colocada em prática, a Semec trabalha para tornar Belém uma cidade alfabetizada na Língua de Sinais Brasileira.
“Começamos na pandemia e mesmo assim não medimos esforços para colocar em prática o nosso sonho, nosso projeto político-pedagógico. Aos poucos estamos conseguindo vencer a pandemia com a vacinação e os demais cuidados", informou a secretária.
Plano para tornar Belém alfabetizada em Libras
Ela enfatizou que o projeto político-pedagógico inclui e dialoga com os surdos para construir uma Belém alfabetizada. "Nosso desafio é alfabetizar todas as pessoas que não sabem ler, nem escrever, sejam crianças ou pessoas que não puderam enfrentar a escola. Queremos também alfabetizar em Libras, por meio de cursos, incluindo como disciplina para os estudantes. Fazer realmente a prática da inclusão”, assegurou Márcia Bittencourt.
O percurso histórico da Libras na educação de surdos no Pará foi o tema da palestra do professor do Instituto Federal do Pará (IFPA), Hermínio Tavares, pesquisador da educação para surdos.
Ele compartilhou sobre a diferença entre a história registrada e a história contada pelos surdos, em busca de políticas públicas educacionais desde a década de 1960 com o reconhecimento do status linguístico da Libras no mundo. Depois, aqui no Brasil, na década de 1980 com a implementação de uma política educacional replicada no Pará.
Tavares explicou, que o paraense Cláudio Tholstoi foi o primeiro surdo a ensinar libras em Belém. Em 1960 foi inaugurada na capital a escola Astério de Campos, com 18 alunos surdos.
Cláudio foi alfabetizado aos 15 anos, quando se mudou para o Rio de Janeiro e conseguiu uma bolsa no Instituto Nacional de Surdo (INS), cidade onde ele teve uma vida cultural, social e política extremamente ativa. Quando retornou para Belém buscou difundir a Libras de diversas formas, por meio de encontros públicos e até organizando partidas de futebol, como contou o palestrante.
Batalha para criar curso superior de Libras em Belém
A professora Socorro Bonifácio contou que antes do curso só sabia as letras do alfabeto, mas não conhecia o significado das palavras. “Passei a perceber aspectos linguísticos diferentes. Percebi um universo completamente diferente e isso me deu muita alegria. Vi muitos surdos na universidade e fiquei emocionada de ver surdos pedagogos, advogados, engenheiros. Mas também senti uma mágoa porque aqui estávamos perdendo tempo", contou a professora.
Ela ressaltou, que Belém não tinha perspectiva de curso superior para surdos. " Foi aí que pensei que deveria mobilizar os surdos para lutarmos por melhorias. A língua de sinais era a nossa forma de se comunicar”, esclareceu.
Socorro Bonifácio é a organizadora do primeiro curso intermediário de Libras em parceria com a Feneis, na Universidade Estadual do Pará (UEPA), tanto para surdos quanto para ouvintes.
Ela e o professor Cleber viajaram por várias capitais para conhecer associações, escolas especiais, trocando informações com pessoas surdas de outras regiões do país. Formados em pedagogia, os professores ingressaram em 2000 na Prefeitura de Belém, por meio de concurso público. “Ensinar Libras nas escolas era muito difícil. Mas era o início”, informa Socorro Bonifácio. Ela afirma que a atual gestão municipal se preocupa com a inclusão de profissionais e estudantes, por meio da Libras.
O festival ainda contou com a participação das professoras Tânia Roman (ouvinte) e Tarciele Roman (surda) do programa Bilíngue, que contaram sobre a importância da família para a pessoa surda.
A professora da Feneis, Flaviane Reis, explicou sobre a importância da escola bilíngue para o surdo, que recentemente foi aprovada pela Lei 14.191/2021, como modalidade de ensino.
O Festival pode ser acessado no canal do Crie, no YouTube: https://youtu.be/JFzqgz8lPmo e https://youtu.be/TjjPGWvvaaQ
Texto: Tábita Oliveira
 
								 
															 
											 
								 
															 
								 
								 
								