Com os trabalhadores da educação imunizados, já com as duas doses da vacina contra a Covid-19, a Secretaria Municipal de Educação (Semec) anunciou o retorno às aulas presenciais na rede municipal de ensino de Belém, que será na próxima segunda-feira, 13.
O retorno será pela educação infantil, de forma gradual, escalonada, e conforme o protocolo de biossegurança estabelecido pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesma).
Os profissionais da educação estão entre as categorias mais afetadas pela atual pandemia de covid-19. De uma hora para outra, escolas e universidades foram fechadas e os professores precisaram se adaptar ao trabalho remoto. Muitos tiveram muita dificuldade de utilizar as ferramentas digitais para ministrar as aulas online.
O processo de adaptação e o novo formato de ensino aumentaram ainda mais o volume de trabalho dos educadores.
A professora Suenne Mafra, leciona nas turmas do 3º ano da Escola Municipal Paulo Almeida Brasil e teve que se adaptar ao novo modelo de aulas não presenciais. A rotina passou a ser: gravar aulas, editar, disponibilizar material nas plataformas digitais e muitas vezes atender aos alunos fora do horário de aula.
“Em 2021 , ao iniciar os trabalhos de forma remota, já não foi tão difícil quanto em 2020, pois eu já tinha certa experiência de como trabalhar de forma remota. No entanto trabalhei esse ano com a turma de forma diversificada, ora direcionava as atividades pelo grupo de WhatsApp, ora realizava aulas ao vivo pela plataforma Google meet, assim eu conseguia observar se as crianças estavam interagindo, se estavam fazendo as atividades, além de trabalhar aspectos como oralidade, interpretação, etc”, relata Suene Mafra.
Cresce o número de abandono escolar
As dificuldades de concentração em casa, problemas familiares, ausência de apoio técnico, necessidade financeira e complicações com a conexão de internet, são fatores que muitos alunos acabam por não conseguir prosseguir no letivo. Outros até tentam acompanhar, apesar das dificuldades, mas sentem o peso dos problemas citados.
Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), em 2020, o número de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos fora da escola passou para 1,5 milhão.
A suspensão das aulas presenciais, somada à dificuldade de acesso à internet e à tecnologia, entre outros fatores, fez com que esse número aumentasse ainda mais. Somados a eles, 3,7 milhões de crianças e adolescentes da mesma faixa etária estavam matriculados, mas não tiveram acesso a nenhuma atividade escolar, seja impressa ou digital e não conseguiram se manter aprendendo em casa. No total, 5,1 milhões ficaram sem acesso à educação no ano passado.
Foi o caso de João Santos, 10 anos, autista de grau leve, que não conseguiu acompanhar as aulas remotas. A mãe dele, Sandra Santos conta que ele ficava muito disperso no momento das aulas e em muitas vezes a conexão da internet caía.
“Ele assistia as aulas no meu celular, foi muito difícil adaptar uma criança que tem sua rotina de aulas presenciais, reduzida a uma tela de celular em casa. A pandemia foi e é ruim para todo mundo, mas a situação das crianças nas escolas foi muito afetada”, afirma.
Professores criam técnicas de incentivo aos alunos
A professora Celeste Malato, leciona no 2° ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Profª Ernestina Rodrigues, e elaborou uma estratégia para que as crianças não sofressem com a dificuldade da falta de internet na pandemia. Ela criou um caderno de atividades com entregas mensais. Os responsáveis das crianças, no ato da retirada dos novos exercícios, tinham que devolver as atividades anteriores e assim ela criou uma dinâmica entre escola e família.
“Para minimizar os problemas de falta de acesso à internet ou espaço para armazenamento no celular, diminuí a quantidade de vídeo nas aulas online. Foquei em dar apoio para que os alunos realizassem as atividades retiradas na escola e reforcei aos responsáveis a importância de criarem um tempo de qualidade e não de quantidade”.
Incentivo aos profissionais da educação
A Secretaria Municipal de Educação (Semec) garantiu aos professores formação e assessoramentos para o início das aulas remotas no dia 12 de abril de 2021.
A coordenação de Educação Infantil da Diretoria de Educação sistematizou o trabalho pedagógico desta etapa, a partir de ações formativas para os professores, desenvolvendo a escuta de suas práticas docentes já em ação desde o início da pandemia, por meio de formulários google forms e eventos formativos online, através de plataformas de canal do YouTube.
A Semec também viabilizou palestrantes – professores de instituições de ensino superior com temáticas envolvendo a educação de bebês e crianças pequenas -, mas também, os próprios profissionais das unidades de educação infantil da rede municipal, que desenvolveram trabalhos de qualidade com crianças de 0 a 5 anos no formato não presencial.
Trabalho home office em meio às rotinas da casa
A pandemia para os profissionais da educação foi como uma avalanche. Em meio a tanto trabalho que eventualmente eles precisam lidar, também existem as demandas domésticas e familiares todas ao mesmo tempo durante o trabalho remoto.
A pesquisa realizada pelo Instituto Península com 2.4 mil professores da educação básica de todo o Brasil, das redes privada e pública, desde a educação infantil até o ensino médio, incluindo diferentes modalidades como a Educação de Jovens e Adultos (EJA), mostrou que desde o início da pandemia, esses profissionais relatam ansiedade perante às aulas não presenciais e sobrecarga de trabalho.
Os educadores tiveram que transformar toda rotina, em jornadas duplas ou até triplas de trabalho, junto com as tarefas domésticas e a educação em casa dos próprios filhos, como constatou a pesquisa.
A professora Suenne Mafra, relata que, além do desafio de se adaptar muito rapidamente ao ensino remoto, sua maior dificuldade foi encontrar o equilíbrio entre a rotina doméstica, como mãe, esposa e administradora do lar, e a vida profissional dentro de casa.
“ O maior desafio deste período foi a questão de estar trabalhando em casa, pois tive que readaptar o meu dia a dia, pois precisava dar suporte educacional para a minha filha pequena no mesmo horário da aula, e por estar no ambiente familiar outras demandas acabam surgindo, independente de querer ou não", explica a professora.
Ela ressalta que este também foi um dos fatores que contribuíram para que as aulas ao vivo com a sua turma só acontecessem duas vezes na semana, pois ela precisava compartilhar o computador com sua filha, que também estava assistindo aula de forma remota”.
Retorno às aulas presenciais
No dia 13 de setembro de 2021 o retorno presencial será da educação infantil, com os alunos distribuídos em grupos de 25% das turmas e comparecimento presencial em dias alternados.
Dia 20 de setembro de 2021 será a vez do retorno presencial do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental e da 1ª e 2ª totalidade da Educação de Jovens, Adultos e Idosos (Ejai), com os alunos distribuídos em grupos de 33% das turmas e comparecimento presencial em dias alternados.
Dia 27 de setembro de 2021 o retorno presencial dos anos finais, ou seja, do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e da 3ª e 4ª totalidade da Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJAI), com os alunos distribuídos em grupos de 33% das turmas e comparecimento presencial em dias alternados.
A expectativa da volta às aulas presencial
Neste momento, além dos cuidados com o distanciamento social, higiene constante das mãos e uso de máscara para minimizar o risco de transmissão do coronavírus, é preciso também ter um cuidado especial com a parte emocional de cada estudante, já que muitos voltam desmotivados e com perdas de aprendizado.
Sandra Santos, mãe do João Santos, disse que já está preparando o filho para o retorno às aulas presenciais e aproveita as terapias do filho autista para que a psicóloga também reforce essa importância com ele, para que tudo ocorra da melhor maneira no retorno à sala de aula.
“Converso muito com ele sobre os cuidados que deve ter ao voltar para a sala de aula, como tem autismo leve, ele é verbal e fala todos os dias que está com muita saudade dos seus amigos e professores e que quer logo voltar a estudar novamente”, conta Sandra.
Esse momento de ansiedade para o retorno da aula presencial também envolve os profissionais da educação. O sentimento de acolhimento e alegria é o que impera entre eles.
“Esse momento gera em mim e nas crianças enorme expectativa. Os pais relatam que as crianças estão ansiosas pelo retorno presencial e é um sentimento pertencente a nós professores também. A educação é feita de troca, de afeto, de movimento. A escola precisa dos alunos e eles precisam dela”, define a professora Celeste Malato.
Texto: Danielle Bastos
 
								 
															 
											 
								 
															 
								 
								 
								