Oficinas do Circuito Afro-Amazônico superam expectativa de público em Mosqueiro

As oficinas do Circuito Afro-Amazônico, realizadas pela Coordenadoria Antirracista da Prefeitura de Belém (Coant), com apoio do Banco do Povo, ficaram acima da média esperada em Mosqueiro. Em três dias, mais de 200 pessoas participaram dos seis cursos ofertados: grafismo indígena, tranças e turbantes, customização e danças afros, arte circense e banho de ervas.

A procura surpreendeu a coordenadora do Coant, Elza Fátima Rodrigues, e comprovou o mapa do Censo Demográfico de 2016, que apresenta 73% da população de Belém se declarando preta ou parda. As oficinas têm dois objetivos, fortalecer a resistência das identidades negras e indígenas e gerar emprego e renda. As oficinas encerraram nesta quinta-feira, 29.

Todas as oficinas fecharam as turmas com trinta pessoas inscritas, porém, duas se destacaram. Uma delas é a de customização afro, que se utiliza de retalhos para criação de figuras de mulheres, crianças ou orixás africanos e revelou talentos escondidos por muitos anos.

As de tranças e turbantes ficaram em segundo lugar na preferência de público. Jovens, mulheres, aposentadas e crianças não perderam a oportunidade de aprender o belo ofício de trançar os cabelos, que, segundo a história, remete aos povos africanos diversos que tinham no desenho da trança uma identidade própria.

São históricos os relatos de mulheres que dizem ser o trançado um trabalho coletivo de abrir caminhos e do DNA de um povo. Também é fato que os negros carregavam sementes de arroz e feijão entre as tranças para onde fossem se estabelecer. “Então, cada desenho de uma trança carrega consigo um símbolo de resistência da diversidade africana que é imensa, considerando ser a África um continente e não um país como a maioria das pessoas pensa”, explicou Elza Rodrigues.

As oficinas fortalecem as expressões em todas as vertentes. A de arte circense carrega o imaginário e a magia humanizada do circo. A de ervas medicinais, que curam, perfumam, unem trabalhos de identidade cultural e de grafismo indígena que estão sendo resgatadas por meio das oficinas idealizadas pela Coordenadoria Antirracista.

“Sentimos orgulhos dessas tradições indígenas e afros por que elas também são geradoras de emprego e renda, pois, fazendo uma trança, com preço médio de R$ 200,00 ou R$ 300,00, ou customizando camisetas bonitas, as mulheres podem ganhar uma renda e ajudar a família, além de resgatar a memória”, destacou Elza.

Empoderadas – Vania Nogueira está em Mosqueiro curtindo o verão quando viu a realização da oficina de turbantes na praça da Vila e correu pra aprender. “O sentimento é de liberdade, de sentir-se bela, poderosa e empoderada. O turbante é símbolo da negritude e, eu estou muito feliz com essa possibilidade de aprender a fazer um acessório que eu amo usar”, disse. Outra que adorou o turbante foi Isabel Reis. “Estou encantada e vou fazer os meus turbantes, graças a este curso”, completou.

As oficinas de turbante e tranças e customização reuniram grande público. Na avaliação geral da coordenação, as oficinas foram muito positivas e mostraram a conexão com as origens e raízes afros e indígenas do Pará. “Quero agradecer pelo carinho e apoio do Banco do Povo, da Agência Distrital de Mosqueiro, CRAS/Funpapa, das secretarias de Educação, de Administração e das oficineiras que têm história de vida e de expressão dentro do movimento de defesa dos povos negros e indígenas”, enfatizou a coordenadora do Coant.

Exposição – As Oficinas do Circuito Afro-Amazônico se completam com a exposição que retrata a luta de doze mulheres negras dos Brasil e do Pará que se destacaram no fortalecimento de combate ao racismo. A exposição pode ser visitada no Centro Multicultural Solar das Artes, na praça da Vila.

O circuito encerrou na tarde desta quinta-feira, 29, em Mosqueiro, mas a ideia é continuar com o trabalho em parceria com as Agências Distritais de Icoaraci e Outeiro, que abrange também a ilha de Cotijuba.

A Coordenadoria Antirracista (Coant) está vinculada ao gabinete da Prefeitura de Belém e está à disposição do público para receber e debater projetos, ideias e ações de valorização das políticas indígenas e negras, além de acolher denúncias de racismo e violência doméstica.

Serviço
A Coant está sediada no Mercado de Ferro Francisco Bolonha – Altos, sala 06- Comércio, das 9h às 15h. Tire suas dúvidas pelo email: coant.belem@gmail.com.

Texto: Selma Amaral

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