Assentamento Mártires de Abril quer retomar pauta do projeto Casulo

O assentamento Mártires de Abril, localizado na área da antiga fazenda da TABA (Transportes Aéreos da Bacia Amazônia), no distrito de Mosqueiro, comemora nesta segunda-feira, 3 de maio, 22 anos de criação. Com a esperança renovada, a comunidade pretende retomar os debates sobre as ações do projeto Casulo, criado por meio de Decreto Municipal como diferencial às políticas públicas de saúde, educação, acesso ao crédito e habitação. O assentamento também quer discutir a criação da escola de campo no local, igual as já existentes nas comunidades de Sucurijuquara e Paraíso, também localizadas em Mosqueiro.

De acordo com o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Antônio Agnor, as famílias do assentamento estão mobilizadas e prontas para dar continuidade à crença de que a luta pela terra faz sentido quando se vive na Amazônia. “Nós estamos no pulmão do mundo e continuamos sonhando com projeto de governo popular”, destaca.

Comemoração – A programação de aniversário começou cedo, com alvorada de fogos às 5h. Em seguida, a comunidade saiu em caminhada, cantou os parabéns, com distribuição de café e bolo. Houve ainda rodas de conversas e almoço; e uma programação cultural também estava na agenda festiva.

Segundo a matriarca do assentamento, Ana Seabra Gurjão, 78 anos, os assentados formam uma grande família. Ela conta que ficou viúva há três anos, mas que é feliz junto com seus amigos e vizinhos e por ter garantido moradia à sua família. Sobre o aniversário do assentamento Mártires de Abril, a idosa conta que, ao se aproximar a data, tem fortes recordações, não de tristeza, mas de alegria e resistência, pois, ela lembra que chegou ao assentamento com uma sacola e a enxada nas costas.

Evolução – Em 22 anos, o assentamento cresceu e diversificou a produção de alimentos, saindo da monocultura do coco para plantios de açaí, cupuaçu, banana, mandioca e feijão. De acordo com Antônio Agnor, 99 famílias moram no local, com tranqüilidade. A Prefeitura de Belém, por meio da Agência Distrital de Mosqueiro, voltou a atender o local com serviços de limpeza e abertura de vias.

A meta do assentamento é retomar as negociações para avançar com as pautas mais próximas do governo municipal, sobretudo o projeto Casulo, que estabelece parcerias entre a Prefeitura de Belém e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), para implantação de políticas públicas de educação, saúde, entre outros. “A reforma agrária é um conjunto de medidas de benefício à comunidade e não apenas a distribuição de terras”, explica.

Até chegar à condição de assentamento, o Mártires de Abril viveu o drama da disputa. Segundo Miguel Ricardo Filho, 52 anos, os trabalhadores amargaram quatro ações de reintegrações de posse judicial da área, de 872 hectares. “Foi muito difícil. Nós éramos 850 famílias e chegamos a ficar 17 dias acampados na praça do Operário, no bairro de São Brás, aguardando a definição. E no dia 3 de abril de 1999, nós marchamos, desde às quatro horas da manhã, até chegarmos aqui”, recorda.

Esperança – Embora abandonado pelas gestões municipais dos últimos 16 anos, o assentamento Mártires de Abril mantém a esperança de ampliar a infraestrutura e se transformar na realização de antigos sonhos. Para quem já está na área como assentado, o recado é de esperança. A programação de aniversário será realizada durante o mês inteiro, com rodas de conversas para reforçar o diálogo sobre a importância do movimento pela reforma agrária. O nome do assentamento Mártires de Abril é uma homenagem aos 19 trabalhadores rurais sem terra mortos durante confronto com a Polícia Militar, em Eldorado do Carajás, no sul do Pará, no dia 17 de abril de 1996. O episódio marcou, definitivamente, a luta pela terra e pela reforma agrária no Brasil e ficou conhecido internacionalmente como o "massacre de eldorado".

Texto: Selma Amaral

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