Semec abre matrículas para Educação de Jovens, Adultos e Idosos em Mosqueiro

A Secretaria Municipal de Educação (Semec) está com matrículas abertas na modalidade de ensino Educação de Jovens, Adultos e Idosos (Ejai) nas escolas Abel Martins da Silva, Remígio Fernandez e Donatila Lopes, na ilha de Mosqueiro. Este ano a modalidade, destinada a garantir os direitos educacionais da população com 15 anos ou mais que não teve acesso ou interrompeu os estudos antes de concluir a educação básica no tempo hábil, ganhou aliados importantes: os ex-alunos. A maioria está colaborando diretamente com a direção da escola Abel Martins no processo de conquista de novos alunos da faixa etária superior a 50 anos, que na maioria dos casos acredita não ser possível voltar a estudar pelos desafios do ensino remoto ou a falta de recursos.

A escola Abel Martins da Silva conseguiu driblar esse desafio distribuindo mais de trezentos questionários nas comunidades dos bairros de Carananduba, São Francisco e nos assentamentos rurais, se utilizando da própria rede de estudantes. A descoberta foi que pescadores artesanais, domésticas, agricultores familiares, pedreiros e trabalhadores informais tinham receio da exclusão, por isso não voltavam a estudar.

Segundo a coordenadora pedagógica das turmas de Ejai da escola Abel Martins, Roberta Torres, foi preciso criar um ambiente especial para dar segurança e confiabilidade numa educação transformadora. “Sabemos que é difícil, mas com o passar do tempo conseguimos avançar, sobretudo, nessa questão do ensino remoto”, lembra a educadora.

O professor Diego Costa conta que as turmas com a presença de alunos idosos precisam de tratamento e abordagens pedagógicas diferenciadas, com acolhida, além de potencializar a educação de forma remota, mesmo considerando que a maioria não tem condições socioeconômicas de sustentar as tarifas da telefonia móvel. “Mas não podemos deixar de incentivá-los, nunca”, diz o educador. “Essa situação da educação remota é desafiadora, pois tem que escolher entre o alimento e o crédito do celular”, diz a professora Sheila Nascimento, que fica de olho no celular acompanhando a lição remota de seus alunos. “É um desafio que estamos superando por amor à educação”, disse.

Superação– Das primeiras turmas do Ejai de Mosqueiro sobram histórias de superação. A dona de casa Maria Cleidimar Costa, 38 anos, passou mais de 18 anos sem estudar. Ela conta que se casou e o marido não permitia que ela estudasse. “Meu marido não deixava porque eu tinha que ficar em casa cuidando das crianças. Mas hoje em dia, após 18 anos, eu voltei a estudar e já terminei meu ensino fundamental, e estou cursando o ensino médio e quero fazer o nível superior em gastronomia ou educação física”, almeja. “Meu marido também voltou a estudar. Ele é aluno daqui da escola Abel Martins, e vem pras aulas juntamente com as crianças”, completa.

O mestre de obras Ivo Antônio, 54, passava maior sufoco quando precisava escrever alguma coisa. Ele conta que se esquivava e ficava nervoso, pois sabia que as pessoas iriam lhe pedir pra anotar ou fazer contas na hora de fechar orçamento de construção. “Era muito difícil, mas agora não, eu até escrevi uma carta de amor pra minha esposa. Eu digo que não existe mais barreira, faço propaganda e mando vir se matricular aqui na escola porque estudar é muito bom”, declara Ivo em depoimento emocionante, pois ele também foi um pioneiro na construção da escola. “Faço propaganda lá no assentamento Dorothy II, porque estudar é um sonho”, completa.

Outro agente na propagação do Ejai de Mosqueiro é o ex-aluno José Fernando Santos Ferreira, 51 anos. Ele precisou voltar a estudar e concluir o ensino fundamental para fazer o concurso público e trabalhar na escola. “Foi muito difícil. Eu não me sentia bem, dormia na sala de aula, depois eu percebi que era pra o meu bem porque a falta de estudos é muito ruim. Hoje só não estuda quem não quer”, define.

Família- As escolas da rede municipal em Mosqueiro têm uma relação muito próxima com as comunidades do entorno. É no ambiente escolar que a comunidade encontra ações de incentivo e valorização do cidadão. Segundo a diretora da escola Abel Martins, Graci Nery de Melo Peralta, a escola tem 1.011 alunos e 78 servidores, uma imensa família que caminha junto com a escola. “Nós temos muito orgulho da nossa comunidade e do resultado do nosso trabalho”, afirma.

A direção da escola Abel Martins reuniu os ex-alunos Ivo Antônio, José Fernando e Maria Cleidimar Costa para que eles fizessem o convite aos novos alunos do Ejai. A roda de conversa contou ainda com a participação de Fátima Rodrigues, da assessoria do Ejai das ilhas de Caratateua e Mosqueiro. As matrículas do Ejai-2021 seguem abertas por tempo indeterminado.

Nesta quarta-feira, 28, a Secretaria Municipal de Educação (Semec), por meio da direção da Escola Municipal de Ensino Fundamental Remigio Fernandez, realiza às 18h, a live Conexão Ejai-Ilhas. O evento será transmitido pela plataforma Google Meet, com a temática Educação de Jovens, Adultos e Idosos – um debate urgente e necessário. A mediadora será Luciana Matias, mestra em educação pela Universidade do Estado do Pará (Uepa). A live envolverá os Distritos Administrativos de Mosqueiro (Damos) e Outeiro (Daout).

Texto: Selma Amaral

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