Projeto nacional reforça diagnóstico precoce da hanseníase em Belém

Dos mais de 500 atendidos, 380 participantes apresentaram sintomas sugestivos para hanseníase, 78 com contato com pacientes e 20 casos foram confirmados

Mais de 500 pessoas foram atendidas durante a ação de saúde promovida pelo projeto “Roda-Hans: Carreta da Saúde – Hanseníase”, no período de 23  a 26 de setembro, no bairro Castanheira, com apoio da Prefeitura de Belém. A iniciativa nacional percorre diferentes regiões brasileiras para ampliar o acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento da doença, executar ações de conscientização e treinar profissionais de saúde. Do total de comparecimentos, foram avaliados 380 participantes com sintomas sugestivos para hanseníase, 78 que tiveram contato com pacientes e 20 casos foram confirmados.

A estratégia de mobilização social, desenvolvida por meio da parceria entre o Ministério da Saúde (MS) e a Novartis Biociências S.A., com apoio de estados, municípios, e da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), tem uma abordagem integrada e abrangente com a finalidade de fortalecer a estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS), promovendo uma atuação mais inclusiva, eficiente e humanizada.

Mais de 500 pessoas compareceram para receberem serviços gratuitos na unidade municipal de saúde do Castanheira

Durante a passagem do projeto por Belém, um total de 316 profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS), entre médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, agentes comunitários de saúde (ACS) e acadêmicos da área da saúde, participaram do primeiro dia  de capacitação, no auditório da Universidade da Amazônia (Unama – BR).

O treinamento prático para 60 médicos ocorreu ao longo da semana com a oferta da avaliação, consultas especializadas, testes rápidos e vacina BCG para a população. A aula prática abordou a detecção precoce da hanseníase e manejo clínico da doença. “O objetivo é qualificar equipes para a detecção precoce da hanseníase, reconhecimento dos sintomas e correto manejo clínico, fortalecendo a rede municipal de saúde no enfrentamento da hanseníase”, informou a coordenadora de Referência Técnica de Hanseníase da Sesma, Gabrielle Lobo.

Mais de 60 médicos pafrticiparam de treinamento duranção a ação de saúde

O encarregado de caminhão-pipa, José Paz, 55 anos, compareceu à ação para ser avaliado e verificar se as manchas na perna dele poderiam ser algo mais grave. “Fiquei sabendo dessa atividade e vim para saber se tem alguma coisa mais séria ou se é um problema de pele mesmo, a gente tem  de se cuidar, né? Vou esperar para passar por consulta e fazer o teste”, disse.

Já Silvana Silva, 50 anos, acredita que é um incentivo a mais para buscar atendimento médico especializado. “Eu estava com umas manchas roxas na pele e vim para receber orientação. Muitas vezes a gente deixa para depois ou acha que não é nada sério, mas iniciativas como essa nos lembram da importância de cuidar da saúde e nos motivam a procurar ajuda profissional antes que o problema se agrave”, afirmou.

Testes rápidos foram realizados no local para garantir a detecção de possíveis casos de hanseníase

Rede Municipal de Saúde oferece tratamento

Apesar de tratável e curável, a hanseníase é considerada um desafio para saúde pública no Brasil em razão de diferentes fatores, como o diagnóstico tardio, o preconceito e a exclusão social enfrentados pelos pacientes. O hansenologista da Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma), Pablo Pinto, alerta que o tratamento oferecido, gratuitamente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS) interrompe a transmissão e previne incapacidades ocasionadas pela doença.

O tratamento é feito com a poliquimioterapia padronizada pelo Ministério da Saúde (MS) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com três medicamentos principais: rifampicina, dapsona e clofazimina. “O esquema está disponível em todas as Unidades Básicas de Saúde e Estratégias da Família de Belém, sendo entregue mensalmente por um período de 12 a 24 meses. Após a primeira dose, o paciente já reduz drasticamente a chance de transmitir a doença”, esclareceu o especialista.

Causas

A hanseníase é causada pela bactéria Mycobacterium leprae, que acomete principalmente os nervos do corpo. Identificar a doença nas fases iniciais é fundamental para evitar complicações. Entre os sinais de alerta estão dores nas articulações, dormência nas mãos e pés, inchaços sem causa aparente, sensação de queimação em membros e até alterações de temperatura em partes do corpo, como braços e coxas.

“Fui diagnosticada no final do ano de 2017, tratei durante um ano, após esse período fiz um exame de baciloscopia que deu negativo e me liberaram do tratamento por estar curada. Após um ano sem sentir nada, a doença retornou com sintomas mais fortes. Sinto queimação na perna esquerda, dormência insuportável no pé direito. Este ano busquei atendimento novamente, avaliaram e disseram que eu não tinha nada”, informou L.S.M.M. de 52 anos, que recebeu o diagnóstico correto durante treinamento dos médicos da atenção primária de Belém na UBS do bairro da Castanheira.

Segundo o Pablo, embora esses sinais possam estar presentes em outras doenças, também podem estar associados à hanseníase e precisam ser avaliados por um profissional de saúde. “O diagnóstico precoce impede que o indivíduo transmita a doença e ajuda a prevenir sequelas irreversíveis, como perda de sensibilidade e incapacidades motoras que podem comprometer a vida doméstica e laboral.”

Crédito: Foto: Divulgação.

Avaliação e busca ativa em visita domiciliar garante atenção preventiva para possíveis casos de hanseniase.

A transmissão ocorre de pessoa para pessoa pelas vias aéreas e gotículas expelidas por indivíduos doentes que não estão em tratamento. Embora o contato domiciliar ou peridomiciliar (área externa de uma residência, em um raio não superior a cem metros) aumente o risco, qualquer pessoa está suscetível a contrair a doença.

Dados

Conforme um levantamento do Boletim Epidemiológico do MS, lançado em 2025, durante o período 2014-2023, foram notificados 309.091 casos de hanseníase no Brasil, onde 80% foram casos novos. Pablo Pinto afirma que existe um subdiagnóstico da doença no país, que “é resultante da incapacidade dos profissionais de saúde de identificar os sintomas e realizar o exame médico correto, muitas vezes sendo confundidos e diagnosticados com outras doenças como artrites, artroses, fibromialgia, alergias, dermatites, entre outros”.

“Há muitos casos sem diagnóstico, inclusive em crianças e idosos. A presença de casos em menores de 15 anos é um satélite, pois mostra que a criança foi exposta ao bacilo muito cedo na vida. Isso ocorre porque a hanseníase leva de 5 a 10 anos para se manifestar após o indivíduo entrar em contato com a bactéria. Além disso na maioria dos casos há pessoas próximas a essas crianças com hanseníase e sem diagnóstico também”, alertou.

Serviços de referência

A rede municipal de saúde desempenha um papel central no enfrentamento da hanseníase, sendo responsável pelo atendimento na atenção primária, por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e da Estratégia de Saúde da Família (ESFs), capacitando equipes para identificar sinais precoces da doença, realizar o diagnóstico e oferecer o tratamento completo com poliquimioterapia.

Além disso, atua na prevenção de incapacidades, monitorando pacientes, orientando sobre autocuidado e encaminhando casos para serviços especializados, como a Unidade de Referência Especializada (URE) para o tratamento de hanseníase, a URE Marcello Cândia, quando necessário.

O município também é responsável pela vigilância epidemiológica, notificando casos, realizando busca ativa de contatos e mapeando áreas de maior incidência, assim como desenvolvendo ações de educação em saúde para reduzir o estigma e incentivar a procura precoce pelos serviços de saúde.

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