Do encontro de várias águas surgiu uma terra de formato peninsular porque as
emoções alongam a alma. Antes de nascer já existia nas ocas dos tupinambás que
preferiram ter o coração atravessado pela espada a ceder seu território. Recebeu um
nome: Belém do Grão-Pará. Pleonasmo bílingue- pará, em tupi, quer dizer grande rio-
mas não de todo sem sentido. Aqui, na natureza desmesurada, tudo é grandioso,
inclusive os amores. Não por acaso gosta de óperas e revoluções. Abrigo das ideias
fora da lei, terra onde tudo treme, Belém é assombrada pelos poemas de tocaia na
Cidade Velha e explode solar nos ritmos de suas baixadas. Seu teatro é de pássaros,
seus dramas tem as cores do arco-íris. Vista de cima é pedaço de céu transbordando a
floresta. Pelo chão é caminho de vagalumes orientando viajantes.
Dizem que Belém se encontra para além dos rios da utopia, mas, nem mesmo lá será
encontrada.O badalar de sinos de seu nome indica perpétuo movimento. Os mais
antigos dizem que saiu da terra andando, há mais de quatrocentos anos. Da outra
margem, os guerreiros disparam suas flechas em direção ao sol. Hoje é o seu
aniversário.
Luiz Arnaldo Campos
Texto: Lene Tavares