A luta pela valorização e respeito profissional

"São dias difíceis, dias de lutas, dias de glória, mas cada vez mais a gente está lutando para conquistar os nossos direitos". É assim que Léa Andrade resume a rotina dos trabalhadores que vivem em Belém. Servidora pública há 19 anos, desde 2003 trabalha no setor administrativo do Pronto Socorro Municipal (PSM) Humberto Maradei, no bairro do Guamá, e agora integra a coordenação da Associação dos Servidores do Pronto Socorro do Guamá (Aspg).

"Estamos trabalhando num período de muita tensão, com medo de sermos expostos, infectados e levarmos esse vírus para dentro de casa, como já aconteceu com muitos colegas de trabalho, inclusive comigo. Mas, durante todo esse tempo a gente estava lá, trabalhando, tentando dar o melhor possível para atender os pacientes que procuram o serviço público de saúde", relata.

Emílio Conceição também é servidor público municipal e há 30 anos dedica-se à cidade através do trabalho. Em 2019, assumiu a direção do Sindicato dos Servidores Públicos do Município de Belém (Sisbel), o primeiro sindicato geral da categoria. "Nós resolvemos demandas não só trabalhistas, temos uma questão social muito forte porque o governo, de forma geral, não tem uma política social para amparar os trabalhadores nessa esfera e a questão social repercute na produção do trabalhador", explica.

As demandas trabalhistas dos servidores municipais pontuadas acima foram apresentadas à nova gestão do município na última quinta-feira, 29, durante a instalação da mesa de negociação. "Nós nunca tivemos essa oportunidade de sentar e discutir diretamente com a prefeitura. Queremos melhores salários, um ticket alimentação digno e também precisamos de um plano de saúde digno ", afirma Léa Andrade.

Na opinião de Emílio, "a negociação foi conduzida de uma forma para que todos pudessem se manifestar e é o que os sindicatos e associações desejam: participar da discussão, serem reconhecidos como todo mundo é reconhecido".

As reivindicações dos servidores municipais – ativos e inativos -, foram apresentadas aos gestores e gestoras da Secretaria Municipal de Administração (Semad), da Secretaria Municipal de Finanças (Sefin), Instituto de Previdência do Município de Belém (IPMB), da Secretaria Municipal de Coordenação Geral do Planejamento e Gestão (Segep) e da Procuradoria Geral do Município (PGM).

"A gente vai fazer um calendário das reuniões específicas das categorias, pegar os temas que serão discutidos com as secretarias específicas, além de manter a discussão sobre os temas que são gerais. A partir daí, a Prefeitura de Belém vai apresentar, criar junto a eles uma proposta para os servidores", adianta a secretária de administração de Belém, Jurandir Novaes.

A Semad também está trabalhando no Programa de Valorização de Servidoras e Servidores Municipais, que envolve acolhimento e humanização. O programa abrange a Semad, o IPMB e o Instituto de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos do Município de Belém e se estenderá a todos os órgãos.

"Buscamos criar uma conexão entre o ambiente interno das secretarias, com ênfase nos servidores e servidores e a sua relação com a cidade. Aqui na Semad, buscamos integrar o lugar de atendimento, de transformação para acolhimento, lugar de respeito, arte e elevação da autoestima", diz a secretária.

Mercado Informal – Em tempos de pandemia, os desafios se intensificam também para os trabalhadores informais, que correspondem a mais 62% da força trabalhadora no Pará, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Diva Gomes é vendedora de comidas típicas e precisou se reinventar para manter o sustento da família neste período. "É tão bom trabalhar com comida regional, eu tenho clientes que você nem imagina. Às vezes as pessoas não acreditam que eu consiga fazer tanta comida, arroz paraense, maniçoba, vatapá, caruru e tacacá. Agora na pandemia nós tivemos muitas dificuldades, mas eu consegui manter minhas vendas. De todos os meus 22 anos nessa área, essa foi a época mais difícil para mim", enfatiza.

Para Augusto Silva, que trabalha com a produção e venda de açaí, exercer a profissão fica mais difícil na entressafra do fruto. "Quando chega a entressafra do açaí a gente fica com dificuldade, porque o açaí fica caro, fica pouco açaí. Acho que aí poderia entrar um suporte do poder público para tentar melhorar a nossa situação", pontua o vendedor de açaí há 15 anos.

Mesmo com as dificuldades do dia a dia, celebrar o Dia do Trabalhador, a esperança fala mais alto e o desejo é de dias melhores. "Desejo que o trabalhador não perca o amor à profissão, seja ele da iniciativa pública ou privada, e que a sociedade possa reconhecer o nosso valor", conclui Emílio.

Texto: Juliana Brito

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