Abrigo acolhe jovens com deficiência e emociona o Brasil

“Eu pensei que nunca estudaria e que toda a minha vida pegaria livros só para olhar as figuras”. O depoimento é de Pedro Paulo Leal, que só aos 28 anos teve a oportunidade de entrar na escola regular. Ele foi diagnosticado com Deficiência Intelectual (DI) e autismo logo na infância e teve a vida marcada pelo abandono nas ruas da capital paraense. Para superar as dificuldades de tanto tempo sem ir à escola, Pedro recebeu atenção e afeto. Ele garante que foi o melhor estímulo para frequentar as aulas e o apoio especializado, oferecidos pela escola municipal Abel Martins, localizada no distrito de Mosqueiro.

“Sinto-me melhor dia após dia com tudo o que estou vivendo, desde os aprendizados que adquiro até o carinho dos colegas e professores”, alegra-se o estudante que sonha entrar na universidade. O mesmo desejo de cursar faculdade é compartilhado pelo cadeirante Renato Souza Lopes, 29, que retomou os estudos este ano, depois que a escola passou a oferecer ônibus adaptado aos alunos. O transporte o busca o estudante na frente do Lar Acolhedor da Tia Socorro, onde ele mora, no bairro Carananduba, de Mosqueiro.

O espaço abriga Pedro, Renato e outros 40 jovens com deficiência e em situação de risco. A administradora do local, que virou mãe adotiva dos abrigados, é dona Maria do Socorro Pereira, de 52 anos, mais conhecida por tia Socorro. "Deus me presenteou com o bem mais precioso: a mãe Socorro. E é ela a responsável pelo desejo de cursar Serviço Social para ajudar neste trabalho", revela Renato sobre o acolhimento que recebeu.

“Eu batalho para dar a eles tudo o que nunca tive”, afirma tia Socorro. “Desde que nasci, me vi nas ruas sem ter com quem contar e passando necessidades", emociona-se. Foi a experiência difícil que a motivou a fundar o abrigo.

O trabalho solidário da tia Socorro tem sensibilizado pessoas do Brasil inteiro, entre elas, o apresentador Luciano Huck. Ele concedeu a ela o Prêmio Inspirador pela iniciativa de fundar e manter um abrigo que cuida e protege crianças e jovens com deficiência que foram abandonados.

Ela conta que 50 pessoas que desenvolvem trabalho dessa natureza concorreram ao prêmio, e que foi uma das cinco escolhidas pelo programa de Hulk. “Eu nunca pensei que seria uma das finalistas, estou muito feliz”, ressaltou e complementou dizendo que “não há nada melhor que tornar conhecido algo realizado com muito amor”.

O trabalho cresce com o reconhecimento e as parcerias, como a da Prefeitura de Belém, que garante escola regular, com transporte escolar e adaptado para os alunos, além de apoio especializado para garantir o aprendizado e melhor desenvolvimento educacional dos estudantes. Há um ano, a Secretaria Municipal de Educação (Semec) e o Centro de Referência em Inclusão Educacional Gabriel Lima Mendes (Crie) garantem benefícios aos jovens acolhidos no abrigo. “No município, nosso maior interesse é incluir, portanto, facilitamos o acesso destes jovens à escola que oferece todo o suporte com nossas salas de recursos multifuncionais", destaca a coordenadora do Crie, Denise Corrêa.

Só posso agradecer a todos aqueles que vêm caminhando ao meu lado", agradece tia Socorro. "Eu poderia tirar todos os jovens das ruas, mas sem a escola, eles nada seriam. Um dia quero vê-los na universidade e construindo suas próprias famílias”, entuasiasma-se.

Texto: Natasha Albarado

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