Acostumados a lidar com os casos críticos da urgência e emergência, a equipe do Hospital de Pronto-Socorro Municipal Humberto Maradei Pereira (Guamá) passou por um misto de emoções na última semana. Após 10 anos, o hospital retomou o serviço de captação de órgãos para transplantes. Duas córneas e dois rins foram captados e quatros pessoas terão a oportunidade de sair da lista de espera por um transplante e ter a esperança de uma vida melhor.
O doador foi um paciente identificado com morte encefálica pela equipe de terapia intensiva. Ele passou por exames para verificações das condições dos órgãos e a captação foi autorizada pela família. De acordo com Márcia Araújo, gerente de enfermagem do HPSM do Guamá, o paciente já tinha manifestado em vida que queria ser doador e isso foi um facilitador para o sim da família. “No momento em que percebemos que ele poderia ser um doador, imediatamente comunicamos a família, que viveu o processo do luto, mas deu o aceite para a doação. Eles foram assistidos pela equipe do serviço psicossocial do hospital e acompanharam todo o processo”, disse Márcia.
Paralelamente, a equipe do HPSM do Guamá mobilizou a Comissão de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos do Pará (CNCDO) e a equipe de captação do Hospital Ophir Loyola para o trabalho conjunto de acolhimento da família, preservação dos órgãos e logística para a captação. “É um trabalho que precisa ser rápido e eficiente, envolvendo mais de 15 profissionais e dois hospitais. A colaboração dos intensivistas no processo de manutenção do potencial doador foi fundamental para que a captação fosse um sucesso. Os rins já têm receptores aqui no Pará mesmo. As córneas irão para o banco estadual de doação, onde podem ficar até três meses aguardando alguém compatível”, explicou Márcia.
A enfermeira Cleide Viana, responsável pelo Centro de Estudos do HPSM do Guamá, acompanhou todo o processo dentro do HPSM e no Hospital Ophir Loyola. Segundo ela, a captação de órgãos poderia ser muito maior se as pessoas tivessem mais informação sobre a importância da doação de órgãos. “É um trabalho que tem que ser feito na porta de entrada dos hospitais, passando pela sensibilização das equipes de saúde para a identificação de um potencial doador. A família, mesmo em meio ao processo da perda, precisa ser bem esclarecida sobre o que é a morte encefálica para que possa decidir pela doação ou não”, ressaltou.
Para ampliar e seguir na captação de órgãos, o HPSM do Guamá está em fase de implantação da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos, (Cihdott) formada por uma equipe multiprofissional (médico, enfermeiro, psicólogo, assistente social, entre outros). “Aqui no hospital temos dois espaços para entrada de pacientes críticos, que podem se tornar potenciais doadores, São a Unidade de Reanimação e o Centro de Terapia Intensiva. Por isso, já estamos fazendo o regimento, protocolo e estrutura para o funcionamento da Cihdott. Essa doação de múltiplos órgãos desta semana foi um estímulo para mostrar que é possível fazer a captação de órgãos dentro da nossa estrutura”, frisou Cleide Viana.
Segundo Adson Rodrigues, diretor em exercício do HPSM do Guamá, o hospital já foi referência em captação de órgãos em Belém, tendo recebido vários prêmios pelo trabalho, mas há 10 anos o trabalho parou e agora está sendo retomado. “No próximo dia 29 vamos completar 15 anos de fundação. A retomada deste serviço é um presente enorme tanto para os servidores quanto para muitas pessoas que hoje aguardam ansiosas pelo momento do transplante. Ainda há muitas dúvidas sobre a doação de órgãos e a morte encefálica, em que o paciente ainda apresenta sinais como o batimento cardíaco. Trabalhamos para salvar a vida de quem procura o nosso serviço, mas, em caso de falecimento, trabalharemos mais ainda para que outras vidas sejam salvas por meio da doação de órgãos e tecidos”, afirmou o diretor.
Texto: Paula Barbosa