Cigano Apaixonado. Este é o nome do CD que será lançado, em breve, pelo artista popular Tony Frank. O álbum que está em processo de finalização, conta com 13 músicas, sendo 9 composições autorais. A tarde deste sábado, 24, foi dedicada à sessão de fotos para o encarte e capa desse novo trabalho, no icônico Solar da Beira, localizado em um dos cartões postais de Belém, o Ver O Peso. Aos 63 anos de idade, Tony Frank vive em situação de rua, paciente em processo de recuperação psíquica e é acompanhado pela equipe do Consultório de Rua da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma). O lançamento deste trabalho marca um novo recomeço na vida de Tony Frank. Mas pra chegar até aqui um longo caminho foi percorrido.
O ano era 2015. A equipe do Consultório na Rua atendia pacientes da rede de saúde mental na Praça da República. E foi lá que encontraram Antônio Francisco Lima de Souza, o Tony Frank, pela primeira vez. Natural do Maranhão, Tony fez da Praça a sua morada, em Belém, onde carregava baldes de água em troca de alguns trocados para sobreviver na capital.
"A gente usava a Praça da República para socializar com as pessoas que estavam dentro dos serviços de saúde mental. Fazíamos uma roda de conversa. E em uma dessas oportunidades, o Tony parou pra ver a roda e se ofereceu para cantar pra gente e assim cuidar das pessoas. E a partir daí se estabeleceu um vínculo afetivo e também de cuidado", lembra o médico Vitor Nina, hoje, diretor de Atenção Básica da Sesma, e que há seis anos acompanha o processo terapêutico de Tony Frank.
Quando foi encontrado pela equipe do Consultório de Rua, Tony encontrava-se em dependência química de álcool, sem referência de identidade e familiar. E foi por meio do atendimento clínico e da arte, que todo o processo de recuperação de Tony foi desenhado.
"A história dele traduz muito do viver das pessoas em situação de rua. E também, infelizmente, de muitos artistas que estão vivendo na rua. Acompanhei ele, em um primeiro momento, de 2015 até 2017, quando ele foi para o Maranhão, por um período. Depois, em 2018, quando ele retornou a Belém, seguimos acompanhando até agora. Entre tantas idas e vindas, a arte sempre o resgatou com muita potência", explica Nina.
E neste retorno a Belém, Tony trouxe na bagagem um projeto: gravar um CD com suas composições. E assim nasceu o álbum Cigano Apaixonado, um trabalho praticamente todo autoral. Ao longo de sua trajetória artística, Tony gravou três albúns, já se apresentou em outras cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, mas se considera parte da cultura maranhense.
"Eu vim embora de São Luís pra cá, fiquei vulnerável na rua, afastado de tudo por causa do álcool. E foram eles (do Consultório de Rua) que me acolheram, cuidaram de mim. São minha família, agora. E hoje, eu sou um cara muito feliz. Fui um artista respeitado no Maranhão, e poder mostrar a minha arte é para mim motivo de muita satisfação e felicidade", destacou Tony.
Consultório na Rua – Assim como Tony, as equipes do programa atendem cerca de 1500 pessoas em situação de rua, em Belém. As equipes fazem atendimento em atenção primária, conhecendo as pessoas, criando vínculos e construindo projetos terapêuticos de acordo com a história de vida de cada um. O programa conta com três equipes que atendem nas ruas de Icoaraci, Ver-o-Peso e São Brás, além do atendimento aos refugiados, em especial, aos indígenas venezuelanos da etnia Warao.
Como um braço do programa, dentro da Sesma, foi criado o Núcleo de Arte e Saúde, que tem o objetivo de promover saúde por meio do processo de criação artística. O trabalho desenvolvido com Tony Frank é um dos primeiros resultados práticos deste Núcleo.
"Como observamos no caso do Tony Frank, a música, a produção artística, como terapias, surtem muito mais efeito na restauração do indivíduo, na reprogramação humana, do que qualquer medicamento", detalha Rafael Cabral, coordenador de práticas integrativas complementares da Sesma.
E este resgate deste artista popular, Tony Frank, poderá ser conferido, em breve, pelo público por meio do albúm Cigano Apaixonado, que será lançado em grande estilo, durante as ações pelo Dia da Luta Antimanicomial, que é lembrado em 18 de maio em todo Brasil. O show de lançamento deve ocorrer no abrigo para a população de rua e deve coincidir com o início do processo de vacinação da população de rua contra à Covid-19.
Texto: Danielly Gomes
 
								 
															 
											 
								 
															 
								 
								 
								