Assistência à saúde mental e luta antimanicomial no município de Belém

Desemprego, fome, miséria, trabalho excessivo ou problemas na família. São muitos os motivos que podem levar uma pessoa ao adoecimento mental, principalmente em tempos de pandemia. E neste 18 de maio, Dia Nacional da Luta Antimanicomial, é importante refletir sobre como este público deve ser acolhido e tratado no município.

“A gente precisa de um cuidado primário. Não é só fornecer medicamentos, mas também fazer ações de promoção, criar grupos que possam estabelecer suporte mútuo com a comunidade, que promova a saúde mental. Atrelado a tudo isso, precisamos que o CAPS se aproxime desse trabalho, porque a saúde mental precisa de um cuidado em rede", afirma a coordenadora de saúde mental da Sesma, Ester Sousa, ao falar sobre reformulação do programa de saúde mental na atenção primária, que envolve o atendimento de pessoas em sofrimento mental, nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do município.

Além das UBSs, o município oferece acolhimento às pessoas em sofrimento mental em quatro Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que atendem crianças, adolescentes e adultos. Em cada um deles, aqueles que enfrentam ansiedade, depressão, luto ou fazem uso abusivo de substâncias psicoativas – que vão desde álcool, drogas, até medicamentos -, são acolhidos por uma equipe multidisciplinar. É a partir da escuta que essa equipe estabelece o projeto terapêutico de cuidado.

Outra perspectiva de vida – Sidney Chagas tem 46 anos e,desde que perdeu a mãe, aos 12 anos, enfrenta problemas com alcoolismo e drogas. “Quando comecei a ter desequilíbrio psíquico e financeiro, porque eu não estava conseguindo me manter, eu procurei o CAPS. Fui bem acolhido, bem orientado e, daqui para frente, eu quero ter outra perspectiva de vida. Quero continuar meus estudos, me manter focado e seguir a minha trajetória”, conta.

Tratamento em liberdade – A história de Sidney reflete como a pessoa em sofrimento mental reage ao ser bem acolhida. Essa é uma das lutas do movimento antimanicomial no Pará. “A nossa bandeira sempre foi o tratamento em liberdade, com respeito, dignidade, acreditando no potencial desse usuário como cidadão, trazendo a cidadania para ele, acreditando em uma outra forma de cuidado”, explica Rosângela Cecim, assistente social há mais de 30 anos, que integra a direção do Movimento da Luta Antimanicomial Pará, núcleo Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (Renila).

Especializada em saúde mental, Rosângela Cecim iniciou a vida profissional em um manicômio e por isso defende uma outra forma de acolher e tratar pessoas em sofrimento psíquico. “Nos manicômios existe uma relação muito grande de poder e submissão do paciente, onde não é respeitada a individualidade, a subjetividade deles. Há uma segregação, uma exclusão, um sequestro da subjetividade das pessoas, não existe um trabalho interdisciplinar”, conta.

Por isso, a Prefeitura de Belém tem buscado melhor acolher esse público, tanto nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), quanto nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPSs). “A gente defende que as pessoas sejam acolhidas no seu sofrimento,em espaços que garantam dignidade, que faça a pessoa se sentir protegida naquele momento, em que ela mais precisa. Então, hoje, com o movimento da luta antimanicomial, pensar e defender o 18 de maio é defender que a gente garanta esses serviços, esses equipamentos, essa rede de serviço, capaz de acolher o sofrimento da população, especialmente nesse contexto de pandemia”, conclui a coordenadora de saúde mental da Sesma, Ester Sousa.

Programação alusiva – Para aprofundar esse debate, a Secretaria Municipal de Saúde, em cooperação com o Movimento da Luta Antimanicomial Pará, núcleo Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (Renila), está promovendo uma extensa programação, que envolve desde uma plenária na Assembleia Legislativa do Pará até exposição. Confira!

>> Quinta (20/05)
– Sessão Especial em Alusão ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial no Brasil, às 10h pela internet (acesse aqui).
– Exposição de trabalhos produzidos nas oficinas e grupos pelos usuários dos CAPSs, às 9h, no CAPS Mosqueiro.
– Roda de conversa "Luta Antimanicomial: histórico, desafios e projeções", promovido pelo CATO UEPA, às 18h30, e roda de conversa "Luta Antimanicomial nos Espaços", às 20h. Ambas pelo Google Meet.
>> Sexta (21/05)
– Apresentação e lançamento em sala de espera do projeto “Florindo o CAPS e a vida”, às 9h, no CAPS Mosqueiro.
>> Quarta (26/05)
– Palestra on-line "Lugar da Intervisão na reconstrução do cuidado e do reconhecimento da alteridade do outro", às 19h30, no Google Meet. Palestrante: Psicólogo Paulo Peixoto, supervisor da Referência Técnica de Saúde Mental/Sesma, no CAPS Mosqueiro e na Casa Mental do Adulto.
>> Quinta (27/05)
– I Encontro do Ciclo de Debates em Saúde Mental na Atenção Primária em Saúde: construindo redes de cuidado em tempos de Pandemia, às 9h30, no Auditório da UMS Marambaia.
>> Sexta (28/05)
– Lançamento do Projeto Piloto "Promovendo Saúde Mental na Atenção Primária em Saúde", às 10h, no Auditório da UMS Satélite.
Live “Tony Frank: o cigano apaixonado no Veropa”, às 16h, no Ver-o-Peso.

>> Serviço: Locais de atendimento
Casa Mental do Adulto (Caps 3): rua 03 de Maio, 1125, em São Brás;
Casa Mental da Criança e do Adolescente (Caps I): avenida Alcindo Cacela, 1231, no Umarizal;
Casa Álcool e Drogas (Caps AD): avenida Gov. José Malcher, 1457, em Nazaré;
Casa Mental de Mosqueiro (Caps Mosqueiro): rua Francisco Xavier Cardoso, 1077, no Maracajá.

>> Leia mais: Dia da Luta Antimanicomial é marcado por evento em Belém

Texto: Juliana Brito

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