Oneno Moraes jamais poderia pensar no que o esperava quando decidiu deixar a cidade de São Sebastião da Boa Vista, no Arquipélago do Marajó, para morar em Belém. Ao chegar na capital paraense ele trazia apenas a expectativa de melhorar de vida e um talento que ele nem mesmo sabia que lhe seria essencial: a arte de saber dançar carimbó. Hoje com 40 anos ele já contabiliza diversas viagens mundo afora por conta daquilo que trazia nas veias desde criança e que mudou completamente a sua vida.
Integrante do Balé Folclórico da Amazônia (Bfam) há dois anos e meio, o decorador e também organizador de eventos vem percorrendo o país e o mundo para mostrar que o ritmo mais tradicional da sua terra natal é capaz de encantar qualquer público em qualquer lugar. “Das viagens que eu já fiz trago muita coisa legal, pesquiso e me interesso por tudo. A dança representa metade das coisas que eu carrego e, além de ser o meu trabalho, é um prazer que levo sempre comigo.” comenta.
O Bfam é uma companhia de dança folclórica criada nos anos 1990, que busca a divulgação das artes e manifestações culturais da região Norte do Brasil. Com um trabalho voltado para a cultura popular da Amazônia Brasileira, o balé já viajou país afora em turnês que passaram pela França, Espanha, Portugal, Bélgica, Luxemburgo, Suíça, Equador, México e Venezuela.
Professor de Educação Física aposentado, Eduardo Vieira foi o grande idealizador desse trabalho. Hoje, ele se ocupa de toda a elaboração coreográfica, criação de figurino e assuntos administrativos. Vindo de uma escola de samba, ele pôde trazer suas habilidades para confeccionar a maioria dos adereços que são usados nos espetáculos da companhia. “Eu aprendi muita coisa relacionada a figurino e comecei a assumir essa responsabilidade de montar e criar os adereços. Tudo que o balé tem é produzido em oficinas que são feitas pelos próprios integrantes”, conta.
As viagens já renderam histórias memoráveis. Alguns bailarinos e bailarinas do grupo conheceram seus atuais companheiros nos países por onde passaram e acabaram deixando o balé para assumir um relacionamento e uma nova vida. “A viagem para a Europa foi de muita experiência para mim. Tudo foi novo, pois entrei na companhia no ano em que fizemos essa turnê. A cidade que eu mais me encantei foi Barcelona, na Espanha. A recepção das pessoas me marcou muito. Eles são encantados pelo Brasil, então adoraram as nossas histórias, lendas, mitos e tudo que compõem esse imaginário amazonico. Gostaram mais ainda do nosso repertório de Samba”, conta Everton Magalhães, 22, há três anos no grupo.
Neste segundo semestre de 2014, a companhia irá participar do Festival Internacional de Folclore de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, de 15 a 23 de agosto,e também do Festival Internacional de Folclore de Goiás, em Pirinópolis, de 25 a 31 do mesmo mês. “Todo mundo está ansioso, principalmente os novatos. A preparação foi bem pesada porque tinha gente que ainda não conhecia o nosso repertório e nem tinha o pique de show que já temos. A troca de roupa tem que ser muito rápida. Quando entram pessoas novas, faço o que posso para ajudar, pra ensinar”, conta Jhonata Blazevit, um dos veteranos da companhia, há nove anos no Bfam.
Qualquer pessoa que tenha interesse em participar da companhia pode procurar o grupo. “Quem compõe o Bfam são essas pessoas que fazem essa dança popular, de periferia, da cidade e que têm uma habilidade para dançar, mas que não tem formação acadêmica nessa área. Nós desenvolvemos uma forma de preparação desse corpo com uma série de exercícios onde conseguimos observar uma melhora no desempenho corporal de cada um. Atualmente temos vários membros que fazem curso de dança na universidade.” explica Eduardo Vieira.
Os ensaios, reuniões e encontros do grupo acontecem sempre na escola Avertano Rocha, em Icoaraci, às segundas, terças e quintas-feiras, sempre das 20h às 22h. Um trabalho desenvolvido com muita determinação, que ajuda a projetar a cultura paraense mundo afora. “Esse é meu projeto de vida. É muito gratificante poder ter conseguido esse sucesso internacional. As oportunidades para quem vive da arte, como é o caso da dança, não são muitas, então acredito que o resultado surge mesmo a partir da dedicação e da persistência, que não faltam aos nossos bailarinos. Minha alegria depende do trabalho de cada um deles”, resume o diretor.
Texto: Caroline Torres
 
								 
															 
											 
								 
															 
								 
								 
								