Bosque Rodrigues Alves: floresta preservada no coração de Belém

Com 15 hectares de mata nativa, Bosque completou 142 anos com revitalização, novos animais, ações de educação ambiental e maior integração com a comunidade.

Crédito: Semma

Bosque Rodrigues Alves, com seus 15 hectares de floresta amazônica preservada, é um verdadeiro refúgio natural em meio à cidade. Um pedaço vivo da Amazônia no centro urbano.

No coração de Belém, entre o concreto da cidade e o tráfego intenso da Avenida Almirante Barroso, repousa um dos maiores patrimônios naturais da capital paraense: o Bosque Rodrigues Alves – Jardim Zoobotânico da Amazônia. Com 15 hectares de mata nativa preservada, o Bosque completou 142 anos no dia 25 de agosto, vivendo uma de suas fases mais significativas: um processo de revitalização que está devolvendo ao espaço seu esplendor original — e à cidade, o orgulho de tê-lo.

As mudanças não tocam apenas as estruturas físicas do Bosque: elas reacendem a esperança dos servidores, resgatam a autoestima dos frequentadores e reforçam a conexão profunda entre a população e a biodiversidade amazônica.

Crédito: Jader Paes

Bosque Rodrigues Alves ganha nova vida com obras que preservam a natureza e garantem um espaço mais bonito e acolhedor.

Uma floresta dentro da cidade

Mais do que um ponto turístico, o Bosque representa um fragmento vivo da floresta amazônica. São mais de 10 mil árvores, distribuídas entre 300 espécies nativas. Dos seus 15 hectares, mais de 80% são áreas verdes, onde a sombra das samaumeiras centenárias, castanheiras, andirobas e tantas outras espécies abriga uma fauna diversa e fascinante.

O espaço recebe, em média, 20 mil visitantes por mês, que têm a oportunidade rara e transformadora de caminhar por trilhas rodeadas pela mata, ouvir o canto das aves e experimentar a floresta sem sair da cidade.

Crédito: Jader Paes

Visitantes encantados observam os animais do Bosque Rodrigues Alves, um verdadeiro santuário da fauna amazônica.

Fauna acolhida, protegida e respeitada

Todos os animais que vivem no Bosque foram resgatados de situações de risco. Muitos vinham sendo mantidos ilegalmente em cativeiros domésticos e, por não poderem mais ser reintroduzidos na natureza, encontraram ali um lar definitivo.

Hoje, o Bosque abriga cerca de 430 animais, entre aves, répteis e mamíferos. 29 espécies vivem em cativeiros adaptados, e outras 26 circulam em liberdade ou semi-liberdade, como parte de um ambiente cuidadosamente planejado para garantir bem-estar e segurança.

O Bosque é mais do que um abrigo. É um santuário para esses animais”, explica Ellen Eguchi, diretora do Departamento de Áreas Especiais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) e responsável técnica pelo Bosque. “Cada animal aqui tem uma história de superação. Muitos chegaram feridos, debilitados, com traumas. Nosso trabalho é devolver a eles dignidade, oferecer tratamento, conforto e, acima de tudo, respeito. A presença deles aqui também permite que o público crie empatia, se eduque e perceba a importância de preservar a fauna amazônica.”

Crédito: Semma

Olhares curiosos e encantados no Bosque Rodrigues Alves, onde a conexão com a fauna amazônica transforma cada visita em uma experiência única.

Os animais que chegam ao Bosque são provenientes de apreensões realizadas por órgãos ambientais, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Senas) e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma). Muitos deles são resgatados de residências, onde eram mantidos ilegalmente como animais de estimação.

Crédito: Jader Paes

As araras-canindé (Ara ararauna) e arara-macau (Ara macao), foram resgatadas pelo Batalhão de Polícia Ambiental, no município de Terra Alta, nordeste paraense, as aves chegaram ao Bosque em março deste ano.

No Bosque, os animais regatadas passam por avaliação clínica e comportamental feita por uma equipe multidisciplinar composta por biólogos e veterinários que vão determinar se eles têm condições de voltar à natureza. Muitos já estão imprintados — ou seja, repetem comportamentos humanos, como papagaios que falam ou animais que se aproximam naturalmente de pessoas. Esses não podem mais ser devolvidos ao habitat natural e acabam ficando no Bosque permanentemente.

Crédito: Semma

Lina chegou ao Bosque com apenas três meses de vida, após ser resgatada pelo Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) de uma residência onde era criada como pet.

Renovação da fauna e flora

A revitalização do Bosque não trouxe apenas melhorias estruturais — ela também trouxe novos moradores. Recentemente, uma capivara, novas araras, serpentes e tartarugas foram integradas ao espaço, ampliando a biodiversidade do local e encantando os visitantes.

“É uma nova fase para o Bosque. Estamos fortalecendo o compromisso com a conservação”, conta Ellen.

“Plantamos novas árvores, como as imponentes samaumeiras. Reformamos recintos para receber espécies de forma adequada. Quando um novo animal chega e encontra aqui um ambiente saudável e seguro, é como se o Bosque ganhasse uma nova vida. É algo que toca a gente profundamente. Não estamos apenas cuidando de um espaço: estamos restaurando vínculos entre a cidade e a floresta.”

Crédito: Jader Paes

Bosque Rodrigues Alves é o refúgio perfeito para quem quer se conectar com a fauna e flora amazônicas sem sair da cidade.

Investimento, parcerias e transformação

Desde o início da atual gestão, a Prefeitura de Belém, por meio da Semma, tem atuado para resgatar o Bosque. Segundo a secretária Juliana Nobre, já foram investidos cerca de R$ 250 mil, com apoio de parcerias privadas, conversão de multas ambientais e trabalho conjunto com PPLs (Pessoas Privadas de Liberdade).

“O Bosque estava esquecido. Hoje, está sendo devolvido à população com carinho, cuidado e propósito”, afirma Juliana.

“Conseguimos revitalizar recintos, brinquedoteca, o lago dos cágados, sinalizações e muito mais. O apoio do prefeito Igor Normando tem sido fundamental para essa transformação. O Bosque volta a ser referência ambiental, turística e educativa.”

Servidor há 13 anos: “Hoje, somos reconhecidos”

Crédito: Arquivo pessoal

Há 13 anos no Bosque, o biólogo Tavison Guimarães dedica sua trajetória à preservação da Amazônia.

O biólogo Tavison Guimarães, que trabalha no Bosque há 13 anos, viveu de perto os momentos de abandono — e agora, a esperança renovada. “Eu vi esse Bosque quase ser esquecido. E agora ver ele sendo recuperado, ganhando vida, recebendo animais, crianças voltando, é emocionante. Antes a gente sentia que trabalhava invisível. Agora, nosso trabalho é reconhecido. Isso nos dá mais vontade de cuidar. Quem ama o Bosque vai se surpreender com tudo que está sendo feito”, destaca Tavison

Um lugar de lembranças, afetos e gerações

A professora Maria do Socorro Lima, de 69 anos, moradora do bairro do Marco, é uma das frequentadoras mais fiéis do Bosque. Em sua voz embargada, é possível sentir a conexão profunda com o espaço.

“O Bosque faz parte da minha vida, da minha família. Eu trago meus filhos desde que eram pequenos. Hoje, trago os meus netos pela mão. Cada árvore aqui tem uma lembrança. Cada canto tem uma história nossa”, diz emocionada. “Ver esse lugar sendo cuidado de novo é como se estivessem cuidando também da nossa memória, do nosso passado, daquilo que é sagrado pra gente. O Bosque é um pedaço da alma de Belém.”

Educação, lazer e consciência ambiental

Crédito: Jader Paes

Crianças assistem a peça educativa no Bosque Rodrigues Alves, promovendo consciência ambiental desde cedo.

Além de ser um refúgio natural, o Bosque é uma poderosa ferramenta de educação ambiental. Escolas da rede pública e privada fazem visitas guiadas, e a gratuidade no último domingo de cada mês garante acesso democrático ao espaço.

“Queremos que o Bosque seja um lugar vivo, acessível, onde as pessoas possam aprender, se emocionar, se reconectar com a floresta”, diz a secretária Juliana Nobre. “O futuro do Bosque é promissor. Estamos apenas começando, e queremos que ele seja, novamente, referência para o Brasil inteiro.”

Com espaços renovados, o Bosque está aberto para receber famílias, estudantes, turistas e todos que desejam aproveitar a natureza, aprender sobre a fauna e flora amazônicas e conhecer um pouco da história de Belém.

O Bosque é aberto ao público de quinta a domingo, das 8h às 16h, o espaço permanece fechado às segundas-feiras para manutenção e cuidados com os animais. O valor da entrada é de R$ 2,00, com gratuidade para crianças de até 6 anos, idosos e pessoas com deficiência. Crianças de 7 a 12 anos pagam meia-entrada, e no último domingo de cada mês, a entrada é gratuita para todos os visitantes.

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