Calçada de pedras portuguesas da Praça da República passa por revitalização

Pedras assentadas uma a uma para formar um mosaico, beleza que muitas vezes, passa despercebida sob os pés de quem cruza a Praça da República. Consideradas símbolo histórico da cidade, as calçadas de pedras portuguesas estão recebendo cuidados especiais no projeto de reforma do cartão postal de Belém.

Com 40 anos de experiência na arte de montar calçadas portuguesas em várias cidades do Brasil, e mundo a fora, o carioca Manuel Nazareno Ferreira dos Santos, de 61 anos, volta à praça para refazer um trabalho realizado por suas mãos há mais de três décadas. “Estou muito feliz e orgulhoso de poder retornar neste trabalho que fiz há 32 anos, quando a praça recebeu, pela primeira vez, as pedras portuguesas. Naquela época, não existia a profissão aqui e eu trouxe 12 mineiros para trabalhar nesta calçada”, relembra.

Morando em Belém há 36 anos, ele aprendeu o ofício em Brasília e já deixou sua marca em cidades como Belo Horizonte, Goiânia, Rio de Janeiro, Curitiba, Manaus. O trabalho de Manuel Nazareno ultrapassou as fronteiras brasileira e chegou na Argentina, Paraguai e Uruguai.

Conhecido como “Nazareno, o Careca”, ele orienta o trabalho da equipe de 17 funcionários da empresa contratada pela Prefeitura de Belém para realizar a reforma em toda a Praça da República.

O trabalho de recuperação das calçadas da Praça da República resgata um ofício que poucos conhecem e está quase esquecido. É a profissão do calceteiro – antiga atividade, tradicional de Portugal, de quem atua, especificamente, na fixação e recuperação de pedras portuguesas. “A profissão de quem aplica as pedras é calceteiro, e eu comecei assim. Mas, depois de um tempo, quem passa a orientar e ensinar, na verdade, é considerado um decorador em pedra portuguesa”, orgulha-se.

Nazareno treinou os trabalhadores envolvidos na obra, passando a eles toda a sua experiência adquirida com os trabalhos executados em espaços como o Theatro da Paz, Aeroporto Internacional de Val de Cães, Estação das Docas, Casa das Onze Janelas, Mangal das Garças, Polo Joalheiro São José Liberto, o antigo Hilton Hotel, Mercado de São Brás, Memorial Magalhães Barata, Praça Dom Pedro e Bosque Rodrigues Alves.

“A primeira calçada que eu fiz, em Belém, foi na Praça Batista Campos quando ela passou por reforma pela primeira vez. Depois engrenei em vários trabalhos. Por isso, sou conhecido como o patriarca da pedra, por ter formado muitos profissionais na cidade”, conta.

Em um trabalho artesanal e minucioso, uma a uma, as pedras são removidas, selecionadas e passam por um processo químico de limpeza e clareamento. Depois, elas são recolocadas em cima de uma camada de areia e cimento. “A colocação das pedras é feita com ferramentas específicas que permitem ao calceteiro nivelá-las na calçada. O aproveitamento das originais é o máximo possível e o desenho original está sendo mantido”, detalha Nazareno, ao referir-se ao trabalho realizado na Praça da República.

De acordo com o secretário municipal de Urbanismo, Adinaldo Oliveira, todos os 12 mil metros quadrados de calçadas portuguesas serão recuperados. “O calçamento está ganhando um novo nivelamento para permitir a drenagem e escoamento da água das chuvas. Serão eliminados buracos e irregularidades com a reposição de pedras. Também serão construídas novas rampas de acessibilidade”, explica.

Revitalização – O processo de recuperação da Praça da República iniciou em dezembro passado, pelos monumentos da Fonte Luminosa, Fonte da Praça da Sereia, Pavilhão Euterpe e os coretos de ferro e de alvenaria. Após o restauro, eles voltarão ao funcionamento original e receberão projeto de iluminação cênica. A previsão de conclusão da obra é até o final do ano.

Já foram finalizados os serviços de reforma de estruturas, coberturas e forros; reforço estrutural e de fundação; revestimento; calçadas de proteção; impermeabilização e proteção anti-corrosiva. Também estão sendo reformados os banheiros e as instalações hidráulicas e elétricas.

Atualmente, os monumentos estão preparados para receber pintura nas cores originais. Para descobrir as tonalidades precisas, é realizada uma análise em laboratório, chamada de prospecção pictórica. Antes, de serem aplicadas, as cores ainda passarão pela aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Pará (Iphan).

Texto: Jaqueline Ferreira

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