“Ele sempre comeu bem em casa, mas só o que ele gostava. Não aceitava tomar uma sopa, comer uma banana. E como ele tem autismo, é muito seletivo e é difícil convencê-lo a fazer algo que não queira”, relembra Camila Sena, de 28 anos, a respeito do filho Guilherme, hoje com cinco anos. Guilherme estuda na Unidade de Educação Infantil Rosemary Jorge, em Belém, desde que tinha dois anos. É lá que ele passa a maior parte do seu dia.É onde brinca, aprende, e é também o local onde faz as principais refeições diárias.
“Eu fico despreocupada enquanto ele está lá, porque na verdade descobri que ele come melhor lá do que em casa”, conta sorrindo, a mãe de Guilherme. Segundo Camila, é um incentivo para o filho ver outras crianças comendo coisas que habitualmente ele não aceitaria comer em casa. “Lá ele toma sopa, come macarrão, e até algumas frutas, coisas que sempre tive dificuldade em fazê-lo comer. E depois ainda me diz que adora a comida da escola”, afirma.
Uma das responsáveis pela mudança nos hábitos alimentares de Guilherme é a merendeira Norma Queiroz, 49 anos. É pelas mãos dela que são preparados os mingaus, feijões e sopas que Guilherme passou a elogiar em casa. “Para algumas crianças é mais difícil do que pra outras inserir legumes e frutas na alimentação. Tem criança que não traz esse hábito de casa. Então, a gente tenta criar formas de ir inserindo isso na alimentação deles sem que eles se deem conta. É um feijão que vai com couve e abóbora, um macarrão com os legumes picados bem pequeninos, a beterraba a gente rala pra não aparecer e assim eles passam a comer e gostar”, revela Norma.
Porém, até que o alimento final preparado por merendeiras como Norma chegue ao prato dos 74 mil alunos da Rede Municipal de Ensino, há uma grande equipe envolvida por trás, trabalhando para que tudo saia de forma eficiente.
O cardápio da merenda escolar é todo elaborado pela equipe de nutricionistas da Fundação Municipal de Assistência ao Estudante (Fmae), sempre em agosto do ano anterior ao exercício. A partir deste cardápio é feita uma pauta dos gêneros alimentícios que serão necessários ao longo do ano.
A Comissão Permanente de Licitação da Prefeitura de Belém realiza o pregão eletrônico para a aquisição dos produtos necessários. E no caso da agricultura familiar, a chamada pública, que é a dispensa de licitação, atendida hoje por agricultores como Marcos Cardoso e Moisés Alcântara, que moram em Cotijuba, e fazem parte da Cooperativa Agropecuária dos Produtores de Belém (Copabel).
“Os produtos são planejados para chegar às escolas semanalmente, no que se refere a parte de hortifrutis e as proteínas – frango, carne, ovo – , e a Fmae entrega os gêneros não perecíveis para um mês de cardápio”, detalha a nutricionista Carmen Brandão. O cardápio, além de variado e balanceado, não conta com nenhum produto industrializado.
“A gente aboliu qualquer tipo de elemento industrializado do cardápio, todos os sucos são feitos com polpas de frutas, e todos os alimentos que são consumidos aqui são preparados pelas merendeiras das escolas”, explica a nutricionista, que reforça a importância da merendeira para que o produto final chegue com qualidade ao prato dos alunos.“São elas as responsáveis por introduzir esses elementos que a gente idealiza. Elas passam por um treinamento, onde aprendem técnicas de preparo e também técnicas de conservação, de recebimento, de armazenamento, e orientação quanto à forma de apresentar esses alimentos”, conta.
Para Norma, que trabalha como merendeira em escolas municipais há cerca de 18 anos (só na UEI Rosemary Jorge já se vão nove anos de trabalhos prestados), todo esse trabalho e a atualização constante, através de cursos, tem dado resultado positivo. O carinho dos alunos e os pratos vazios ao final das refeições são um sinal de que refeição saudável, balanceada e nutritiva também pode agradar ao paladar dos pequenos. “Eu acho que a gente tem que fazer com amor e gostar do que tá fazendo. Não adianta fazer uma comida só por obrigação, que não sai bacana. Eu amo meu trabalho. Amo cozinhar”, diz a merendeira.
Para as mamães e papais que são responsáveis pela alimentação das crianças quando elas estão em casa, a nutricionista Carmen Brandão dá uma dica: “Uma criança de até cinco anos está em pleno aprendizado dos hábitos alimentares,a gente não pode dizer que ela não gosta. Ela está aprendendo a gostar e a persistência é muito importante. Essa é uma etapa fundamental”, alerta.
Texto: Kennya Correa
Texto: Kennya Corrêa
 
								 
															 
											 
								 
															 
								 
								 
								