Cinema Olympia exibe mostra de filmes portugueses

Neste mês de julho, o Cine Olympia preparou uma grade especial de filmes de sucesso em Portugal para os cinéfilos de Belém. Uma excelente programação para este período de férias. A mostra acontece de 2 a 8 de julho e tem o apoio do Instituto Amazônia Brasil. As sessões são as 18h30 e a entrada é gratuita. Alguns filmes serão exibidos com legendas em inglês e espanhol. Somente no dia 6 de julho não haverá sessão, pois às segundas-feiras o cinema fica fechado.

A mostra começa, no dia 2 de julho, com o filme “Cartas a uma ditadura”, um documentário português de 2006, dirigido e narrado por Inês de Medeiros. A partir da descoberta de centenas de cartas de mulheres que em 1958 responderam a uma desconhecida circular de um misterioso Movimento Nacional das Mulheres Portuguesas, a diretora tenta mostrar, ouvindo algumas missivistas ainda vivas, o papel feminino nos anos 50 e 60, época em que Portugal esteve sob o regime Salazarista. Em todas as cartas, estas mulheres falam da gratidão e da admiração que têm pelo ditador. Ao confrontá-las com os fantasmas do passado, o documentário é um mergulho perturbador no obscurantismo que dominou Portugal por mais de 50 anos.

No dia 3 de julho, o filme em cartaz será “Alice”, do ano de 2005, realizado por Marco Martins, em sua primeira obra de ficção. O filme é de poucas palavras, despido de artifícios teatrais, explora mais os estados de alma que as emoções. Num registro seco e sóbrio, aborda o misterioso desaparecimento de uma criança de três anos, há 193 dias na cidade de Lisboa. Mário (Nuno Lopes), o seu pai, percorre o mesmo caminho que tomou no dia em que Alice deixou de ser vista. A sua obsessão leva-o a instalar um conjunto de câmeras de vídeo vigiando o movimento das ruas. No meio da multidão anônima que as câmaras registram, Mário, desesperado, procura descobrir um sinal da filha. A ausência de Alice transformou Mário em outra pessoa, mas procurá-la é a única maneira de continuar a acreditar que ela voltará.

Já no dia 4, a telona do Cine Olympia exibirá “Amália”, de 2008, realizado por Carlos Coelho da Silva. É a primeira biografia ficcionada de Amália Rodrigues, maior fadista de todos os tempos, interpretada pela atriz Sandra Barata Melo. “Amália” é uma história de amores e de glória, dramática e de exaltação. Começa em Nova Iorque, 1984: Amália está prestes a matar-se. A obsessão pela morte vem da adolescência, ela está doente, acredita que chegou ao fim. Na varanda da sua suíte, debruçada sobre o abismo, Amália revê uma vida de gênio artístico, de sucesso planetário, mas também de frieza familiar, de desilusões amorosas, em que avulta uma paixão impossível, a relação controversa com a extrema melancolia do fado, estilo que não ama por se aproximar demasiado das sombras da sua vida, mas que faz vibrar como ninguém, dando ao filme os seus momentos mais espetaculares.

Dia 5 de julho, será exibido o “Filme do Desassossego”, de 2010, realizado por João Botelho. Baseado no “Livro do Desassossego”, escrito por Fernando Pessoa e composto pelo seu heterônimo, Bernardo Soares, o filme conta os sonhos perturbados de um modesto ajudante de guarda-livros, morador num quarto alugado da Rua dos Douradores, em Lisboa, e das suas teorias sobre a vida, da sua relação com a literatura. O “Filme do Desassossego” não pretende ser o livro, mas inquietar o público ao partir desse texto infinito, armadilhado, redundante, onde as perguntas não obtêm respostas e as respostas surgem sem perguntas em rasgos de uma clareza genial.

Dia 7, é a vez de “Linha Vermelha”, um documentário de José Filipe Costa, lançado em 2011. Em 1975, a equipe de Thomas Harlan filmou a ocupação da herdade da Torre Bela, no centro de Portugal. Três décadas e meia depois, “Linha Vermelha” revisita esse filme emblemático do período revolucionário português: de que maneira Harlan interveio nos acontecimentos que parecem desenrolar-se naturalmente frente à câmara? Qual foi o impacto do filme na vida dos ocupantes e na memória sobre esse período?

O último dia da mostra, no dia 8 de julho, fecha com “Lisboetas”, de Sérgio Tréfaut, um documentário político, de 2004, sobre a vaga de imigração que nos últimos anos mudou Portugal. “Lisboetas” é o retrato de um momento único em que o país e a cidade entraram num processo de transformação irreversível. Um filme que rejeita o habitual tratamento jornalístico e aborda a experiência humana dos imigrantes da grande Lisboa de um ponto de vista cinematográfico. É uma janela secreta sobre novas realidades: modos de vida, mercado de trabalho, direitos, cultos religiosos, identidades.

Texto: Lilianne Villacorta

Compartilhe: 

Veja também

Pesquisar