Aos 9 anos, Bruno de Jesus Moraes Lima desenhava bolinhas e acreditava estar escrevendo o próprio nome. Hoje, aos 18, o jovem que sofre de retardo mental moderado, escreve e aprendeu a ter autonomia e a compreender melhor do que é capaz. Glauber Cardoso Virgíneo, 29 anos, é independente, comunicativo e seu maior sonho é trabalhar. Os dois têm em comum algum tipo de deficiência e frequentam as aulas da Educação de Jovens e Adultos, na Escola Municipal Paulo Freire, no bairro do Tenoné. O ingresso na vida educacional é considerado fator determinante para o desenvolvimento dos estudantes.
O aprimoramento das habilidades individuais das pessoas que possuem algum tipo de impedimento físico, mental, intelectual ou sensorial tem sido uma preocupação constante da Prefeitura de Belém e os resultados já alcançados são motivo de comemoração neste 21 de setembro, Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. Entre as medidas adotadas pela atual gestão com esse objetivo, está o aumento do número de Salas de Recursos Multifuncionais na rede municipal de ensino. Em 2013, eram 33 salas. Hoje, 48 escolas possuem o espaço, que conta com equipe especializada formada por psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e outros profissionais que dão suporte no Atendimento Educacional Especializado para os alunos, independente do tipo de deficiência que apresentem.
O Centro de Referência em inclusão Educacional, vinculado à Secretaria Municipal de Educação é o gestor do Atendimento Educacional Especializado que, além de ajudar a aprimorar o que o aluno possui de melhor, faz a intermediação dos profissionais das salas multifuncionais com os professores da sala regular. Juntos e com o apoio da família, eles garantem resultados pedagógicos e sociais positivos para os estudantes.
A Sala de Recursos Multifuncionais da escola municipal Paulo Freire, localizada no bairro do Tenoné, atende dez alunos com deficiência intelectual, alguns ainda não alfabetizados. Os educadores e técnicos usam estratégias especiais para estimular a noção de tempo, dinheiro e locomoção. De acordo com professor José Vitorino Feitosa, da Sala de Recursos Munltifuncionais, o aluno que frequenta as aulas ainda criança tem enormes vantagens em relação aos alunos que passaram a estudar já na idade adulta. Entre os benefícios estão a socialização, autonomia, autoestima elevada e a disciplina.
“É preciso levar em conta que muitos deles ficaram isolados, e trazendo estas pessoas para dentro da escola, é uma porta que se abre. E a aprendizagem não acontece apenas entre o aluno e o professor, e sim com todos os alunos. É um ganho muito significativo”, afirma o educador.
Na Unidade de Educação Infantil Pratinha já é possível perceber a conscientização dos pais no ato da matrícula. Dona Silveriana Romana do Nascimento Loureiro é a responsável de Caio Ribeiro Seabra, 5 anos, matriculado no Jardim I, e sabe a importância do convívio da criança no ambiente escolar. “Ele aprende tudo muito rápido, é muito inteligente e o fato dele estar na escola, se socializando com outras crianças, colabora e muito. Todo dia ele mostra uma coisa nova que aprendeu. Dessa forma, acredito que ele terá uma vida melhor”, comemora.
Fazer com que o filho frequentasse a escola nunca foi uma missão fácil para Diná Rosa de Moraes, mãe do Bruno de Jesus Moraes Lima, citado no início do texto. A dona de casa tem seis filhos, três mulheres e três homens. Todos os do sexo masculino apresentam retardo mental moderado. Aos sete anos Bruno foi matriculado na escola, mas como era muito dependente, retornou aos nove.
Hoje, Diná sorri ao falar dos avanços conquistados pelo filho por meio da educação. “A escola trouxe para a vida do Bruno uma grande ajuda. Ele melhorou muito. Hoje ele já sabe escrever o nome dele, já faz muita coisa sem ajuda de outra pessoa. No início não foi fácil para eu compreender, mas hoje sei que ele está aprendendo do jeito dele”, conta Diná.
Para Glauber Virgíneo, também aluno da escola Paulo Freire, a deficiência não tornou seus sonhos menores do que os das demais pessoas. “Eu gosto de vir para a aula, gosto dos meus colegas, dos meus professores, só que eu quero trabalhar, já que pela manhã e pela tarde eu não tenho ocupação e sei fazer várias coisas”, conta o jovem.
“Todos nós tratamos os nossos colegas especiais de maneira igual. O convívio deles conosco não deixa de ser mais um aprendizado, uma troca de verdade”, afirma a estudante Terezinha de Jesus Santos, que garantiu que na escola o preconceito não entra e a lição diária é a prática da inclusão.
Texto: Aline Saavedra