Prefeitura de Belém, por meio da Coordenadoria Antirracista do Município (Coant), realizou nesta sexta-feira, 11, reunião com líderes de religiões de matrizes africanas. O encontro ocorreu na sede da Coordenaria, localizada nos altos do Mercado de Ferro Francisco Bolonha. Um dos objetivos do encontro foi estabelecer uma comissão de diálogo permanente, entre os religiosos e a administração municipal, para garantir direitos à comunidade.
Outro ponto discutido na reunião diz respeito aos desdobramentos do caso de racismo e intolerância religiosa, registrado no último domingo, 06 de junho, na praça da República. O episódio ocorreu durante uma ação em alusão ao Dia do Meio Ambiente, em que mães- de-santo juntamente com povos indígenas e o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, plantaram mudas de árvores. Na ocasião, um homem, ainda não identificado, filmou indevidamente as lideranças religiosas e o gestor da cidade, direcionando a eles insultos de cunho racista. O ataque foi, posteriormente, divulgado na internet.
Com assistência jurídica da Coant, as mães-de-santo realizaram Boletim de Ocorrência na Delegacia Geral de Polícia Civil, em Belém. O assessor jurídico da Coordenadoria Antirracista, Alejandro Falabelo, explicou que, em um primeiro momento, foi feito o acolhimento das mães-de-santo. "Prestamos assessoria jurídica, auxiliamos na realização do Boletim de Ocorrência. Tivemos uma reunião com a delegada da Divisão de Vulneráveis, que se propôs a ajudar”, explicou o advogado.
“A delegacia competente para investigar o caso é a Delegacia de Crimes Discriminatórios. Então, o próximo passo é prosseguir com as coletas de depoimentos de testemunhas e avaliar outras possibilidades de provas junto à delegacia especializada, na qual já realizamos o contato com a delegada titular”, pontuou Alejandro.
Para a titular da Coordenadoria Antirracista de Belém, Elza Fátima Rofrigues, casos como esse, de racismo e intolêrancia religiosa, não serão aceitos na gestão municipal. “Nós não podemos pensar a Coordenadoria Antirrascista sem pensar na perspectiva das religiões de matrizes africanas. A Coordenadoria prestará sempre apoio às religiões de matrizes africanas e também a todas as religiões, pois a gente entende que o respeito é fundamental para boa convivência. E os afroreligiosos têm direitos de vivenciar os espaços da cidade. Não podemos cercear nenhum tipo de expressão religiosa, seja ela qual for. É a ótica do respeito”, afirmou a Elza Fátima.
A líder da nação Candomblé Angola, a mametu Kátia Hadad, foi uma das lideranças religiosas que participaram do encontro desta sexta-feira. Ela também esteve presente no dia do ato, na praça da República, quando ocorreu a situação de preconceito. “Nós somos cidadãos que pagamos todos os nossos impostos, que não ferimos nem ofendemos ninguém. Então, qual o motivo de todo esse ódio? Nós nos vimos ali vulneráveis, perante uma pessoa que incita o ódio e que promove esse discurso. Isso é muito triste e lamentável”, desabafou.
A mametu (cargo de mãe-de-santo do Candomblé) Kátia Hadad ainda falou da importância de se estabelecer com a Prefeitura de Belém e o povo de terreiro uma comissão de diálogo para reivindicar os direitos da comunidade de estar presente na gestão que, para ela, "é uma gestão de todas as gentes, sem distinção".
Texto: Fabricio Lopes