Uma caminhada dos alunos da Escola Donatila Santana Lopes, no bairro do Farol e na praça do Caranduba, encerrou a I Jornada Afro-cultural de Mosqueiro, nesta sexta-feira, 26.

Mostra das oficinas de dança, desenhos, poesias, contação de história, desfiles da beleza negra e explicações ao ar livre sobre a origem da culinária de matriz africana, encantou ao público que participou do encerramento.

A I Jornada foi resultado do trabalho conjunto de professoras, alunos, diretores e da Agência Distrital com apoio da Secretaria Municipal de Educação (Semec) e Coordenadoria Antirracista de Belém (Coant).

O evento também integra a Semana da Consciência Negra, que começou no dia 20, Dia Nacional da Consciência Negra, com mostras de capoeira, dança e cinema, além da IV Caminhada da Resistência do Povo de Terreiro.

A agente distrital Vanessa Egla agradeceu a participação de todas as escolas e disse que a ação se faz necessária no combate ao racismo e todos os tipos de preconceito.

Ela destacou que o Brasil ainda continua sendo um país preconceituoso, uma vez que a maioria das vítimas de crimes violentos e da população carcerária é formada por jovens negros.

“Precisamos continuar com essa resistência para mudarmos essa realidade e a união de educadores, alunos e o poder público tem forte influência nessa mudança. Hoje, aqui temos a prova disso, estou muito emocionada”, destacou a gestora.

Racismo presente na sociedade

Para a agente de serviços gerais da escola Ana Berreau Mininéia, Maria Graciete, 34, o racismo é mais presente do que se imagina. Ela sente literalmente na pele o problema todas as vezes que chega a um lugar diferente.

“Vejo como as pessoas me olham, como comentam disfarçadamente e isso eu sofro toda minha vida”, conta a servidora, que nasceu em São Domingos do Capim, nordeste do Pará.

Ele complementa que os eventos de conscientização são importantes para "mostrar às crianças que todo mundo é igual”, completou Graciete, antes de participar do desfile da beleza negra juntamente com o professor de geografia Nilberto Gonçalves e a estudante Milena Castro da Silva.

“Sou negra e tenho muito orgulho disso”, disse como forma de incentivo as jovens Camila e Carina Assis, suas sobrinhas.

Educação para combater o racismo

Segundo o professor Iraldo Veiga, diretor da escola Ana Barreau Mininéia, a única forma de combater o racismo é com educação, com legislação específica e rigorosa, para que o infrator não ficar impune e, sobretudo, com exemplos na família e na escola.

“Fazemos atividades contínuas de combate às formas de preconceito, entre os quais o racismo, porque é inadmissível que em pleno século XXI as pessoas ainda sofram discriminação pela cor da pele,. Mas sabemos que isso é um processo longo e que só educação poderá mudar essa realidade”, analisa o educador.

A professora Eliana Paixão, coordenadora da Unidade de Ensino Infantil (UEI) Rotary Clube Belém de Nazaré, que atende 104 alunos na faixa de 3 a 5 anos, também aposta na educação como ferramenta de mudança.

Ela agradeceu a Agência Distrital pela iniciativa da Jornada e disse que está sempre à disposição para participar das atividades que visam melhorar a sociedade e combate às formas de preconceito.

Atividades – Os espaços do Chapéu Virado e da Praça de Carananduba foram invadidos pelos cartazes coloridos, desenhos, poesias, pinturas e artesanato. A produção foi dos alunos. O destaque foi um quadro com poesia alusiva à liberdade. “Todos têm o mesmo o valor”, diz trecho da escrita da aluna Thaís, da escola Abel Martins.

A Jornada também foi um show de talentos. Os estudantes capricharam nos números de dança, de desfiles e das mostras culturais. A pequena Vitória do Rosário aproveitou para trançar os cabelos; outros fizeram pinturas na face e ouviram atentamente as histórias de resistência.

O distrito de Mosqueiro possui a escola de campo Angelus Nascimento, localizada no único território quilombola da jurisdição do município de Belém. “Temos muito orgulho dessa ancestralidade”, comemora professora Ivete Vale.

Participaram da Jornada as escolas Madalena Travassos, Ana Barreau Mininéia, Abel Martins, Angelus Nascimento, Donatila Santa Lopes, Lauro Chaves, UEI Bacuri, UEI Rotary, UEI São Francisco.

A organização foi da Agência Distrital, por meio do Departamento de Turismo e Eventos e do Centro Multicultural Solar das Artes.

Texto: Selma Amaral