Escola Madalena Travassos promove circuito cultural sobre a consciência negra

“Estamos aqui para rememorar esse povo sofrido que veio escravizado da África e que ajudou a construir este país e, também, para pedir perdão a eles”. A fala é de Carla Lagoia, diretora da EMEIF Maria Madalena Travassos, localizada no Paraíso, no Distrito de Mosqueiro.

Por considerar a existência de uma aliança entre escola e cultura, no sentido de socializar e transformar a forma de pensar de educandos e educadores no processo de ensino-aprendizagem, a diretora lembrou, durante a abertura do Circuito Cultural Consciência Negra, nesta quinta-feira, 25, a história da professora Maria Madalena Travassos, que dá nome à instituição de ensino.

“Ela (Maria Madalena) nasceu em uma família escravocrata e se dedicou a alfabetizar os escravos e crianças na fazenda, que hoje é o Hotel Fazenda Paraíso. Naquela época, a professora vislumbrava um novo horizonte, uma sociedade moderna, na qual os escravos seriam vistos como iguais. Por isso, alfabetizava pensando no futuro das crianças após a Lei do Ventre Livre, que considerava os filhos dos escravos livres”, relatou.

“A gente tá fazendo parte de uma nova história onde a escola reafirma a importância dessa cultura afrodescendente para aprender a combater o preconceito que vivemos no dia a dia”, conclui Carla, ao anunciar a vasta programação do Circuito aos estudantes e responsáveis, moradores de assentamentos e quilombos.

O evento começou com a apresentação do Boi Flor da Infância, com o Mestre Pedro (Bacuri) e as crianças do quilombo Suruijuquara, mais a participação do Mestre Ronafar (Curuperé), que ensina a confecção de instrumentos da bateria do Carimbó, a partir da preservação e perpetuação da cultura e sabedoria da natureza.

Teve ainda contação de história, apresentação musical e de dança, mostra de capoeira, Cine África, troca de saberes da horta escolar e degustação de comidas afrodescentes.

Cine África – Estudantes do 3º ano produziram o minidocumentário “Cultura Afrobrasileira”, que traz como a influência africana interferiu na cultura brasileira por meio da alimentação, dança, arte em geral, religião.

“A ideia é trazer essa discussão para ter mais respeito com aquilo que faz parte da cultura brasileira e que se tenha outra forma de enxergar o mundo”, contou o professor Leandro Araújo, idealizador do projeto Conecta Madá, de produção de conteúdo audiovisual.
“Gostei muito documentário. Conhecia algumas comidas, mas não sabia que tinham vindo da África. Nem o carimbó”, disse animada a aluna Glenda Martins, de 9 anos, moradora no assentamento Paulo Fontelles.

Troca de Saberes – “A horta na escola tem dois espaços, um das plantas medicinais e outro de legumes e verduras. Estamos fazendo este cultivo diversificado que estimula uma troca de saberes com a manipulação de plantas medicinais”, comentou Rafael Galvão, o agente de serviços gerais da Escola Madalena Tavares, que compartilha o seu conhecimento sobre plantas na horta escolar.

Com ele, os alunos e familiares souberam como identificar as espécies de hortaliças e de plantas medicinais, a manipulação de ervas pelo álcool e pelo óleo, como preservar as sementes crioulas, os tipos de compostagem agroecológico, modelo de cultivo por meio de troca de experiências.

“A semente de feijão sopinha vinha escondida nas tranças dos escravos, como forma de não perder a identidade cultural e a soberania alimentar”, relatou ao público, formado, em sua maioria, por os alunos de famílias de agricultores.

A dona Rosivalda Lopes, de 49 anos, avó de estudantes da unidade, acompanhou toda a programação e adorou o espaço da horta. “Hoje é um dia de aprendizado para as pessoas se conscientizarem mais sobre racismo e trouxe umas mudas para a hora e estou levando outras, de manjericão e Mastruz. É ótima essa relação da escola de ensinar e cultivar as hortaliça e plantas medicinais”.

Texto: Tábita Oliveira

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