Histórias de amor pela maior feira ao ar livre da América Latina

Maior símbolo dos 400 anos da capital paraense, o Complexo do Ver-o-Peso completa neste domingo, 27, 389 anos de existência. Uma história que tantas vezes se entremeia com a da construção e crescimento de Belém e, para alguns, comporta as histórias de uma vida inteira. Pessoas como o dono de mercearia Antônio Carlos da Silva Castro que, com 64 anos de idade, viveu 55 só de trabalho no Ver-o-Peso.

“Eu tinha nove anos quando comecei aqui, ia vendendo sacos no Ver-o-Peso. Só muito tempo depois que passei a ser empregado de algumas barracas, vender tomate, cebola, pimentão, até conseguir ter a minha própria mercearia”, conta. Com oito filhos criados à custa do trabalho diário no mercado, ele tem orgulho do que construiu nesses 55 anos. “O Ver-o-Peso representa tudo para mim, se duvidar eu até caio na porrada com quem falar mal, pois a minha vida toda foi construída aqui”, afirma.

Já para o cearense Valdir da Silva, de 58 anos, o Ver-o-Peso representou um novo começo. Vindo da cidade de Sobral, em busca de melhores condições de vida, ele encontrou na feira a oportunidade que não tinha conseguido em sua cidade natal. “Eu fui o primeiro comerciante a vender castanha no Ver-o-Peso, e quando saíram estudos médicos falando dos benefícios da castanha, as minhas vendas alavancaram”, explica. “Depois disso, vieram muitos vendedores, mas eu fui o primeiro”, ressalta.

Seu Valdir é conhecido hoje como Ceará, já são 30 anos de trabalho na feira, oito filhos criados, e dois deles começam a seguir os passos do pai. “O Ver-o-Peso representa muita coisa pra mim, aqui é onde nós arrumamos o pão de cada dia. Tem muita família que depende da feira para a sua sobrevivência, se não for daqui não tem outro meio. É a nossa fonte, a nossa vida”, destaca.

A tradição familiar é tão forte no Ver-o-Peso, que muitas são as barracas que passam de pai para filho. A erveira Sueli Silva, de 50 anos, já prepara a filha Simone, de 30 anos, para substituí-la. “Quando eu não estiver mais aqui, é ela quem vai tomar conta de tudo. É a única dos meus quatro filhos que tem a mesma vocação que eu”, conta orgulhosa. Dona Sueli também aprendeu sobre o poder das ervas com a mãe, ainda na infância, e quando começaram a surgir as necessidades financeiras, ela viu naquele conhecimento uma forma de sustentar a família. “Eu tenho quatro filhos e criei todos sozinha, fui pai e mãe. Mas, graças a Deus, com a venda dos cheiros, consegui sustentar todos eles”.

Dona Sueli é apaixonada pelo Ver-o-Peso, ela afirma que em 37 anos de trabalho, o local se tornou uma segunda casa e se pudesse moraria ali. “Aqui tem pessoas de garra, trabalhadoras, e que vivem daqui. Eu praticamente moro nessa feira, tomo café, almoço, merendo, só chego em casa à noite. Se dependesse de mim eu ficava aqui direto, por amar o Ver-o-Peso e amar o que faço”, frisa.

Uma dessas pessoas trabalhadoras e guerreiras, a qual se referia Dona Sueli, é Francinete da Silva Soares, que começou a trabalhar no Ver-o-Peso quando a filha mais velha tinha apenas três anos de idade, e lá se vão 28 anos. “Eu acordava bem cedo e ia na Ceasa coletar os produtos. Não existiam as barracas, a mercadoria ficava em tabuleiros que ficavam no chão mesmo”, relembra.

Francinete é permissionária de uma barraca de hortifruti e foi com esse trabalho que conseguiu criar, sozinha, três filhos. “O Ver-o-Peso é meu marido, é minha caixa forte, se não fosse o Ver-o-Peso a minha família não existiria”, afirma. Com todo esse histórico de amor, ela conclui: “Depois de Deus, essa feira é a coisa mais importante da minha vida”.

Texto: Kennya Corrêa

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