A primeira vez que Rafael Barbosa pisou em um tatame tinha apenas cinco anos e um potencial que chamou a atenção do professor, mas a falta de um quimono impediu que o menino continuasse o treinamento. Há um ano Rafael chegou à sede do Rancho onde funciona o polo de judô mantido pela Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Lazer, e teve uma nova chance de praticar o esporte. Ainda sem condições de comprar o quimono, ele ganhou um para treinar. E treinou surpreendentemente o menino de 11 anos, que neste final de semana vai representar o Pará no Campeonato Brasileiro de Judô, no estado da Bahia.
Outro destaque da seleção paraense sub-13, também atleta do Programa Escola de Esporte, da Sejel, é Vínicius Leão. Campeão da Copa Marabá, uma seletiva para o Brasileiro, Vinicius começou a praticar o esporte há apenas dois anos e desde a primeira semana de treinos já mostrava que o futuro seria de muitas vitórias. A maior delas foi vencer a desconfiança e o preconceito. Vinicius tem uma deficiência no braço, que o professor Gilberto Cruz logo adivertiu que não teria mais espaço que o talento do judoca.
"Quando o Vinicius chegou, veio com esse pensamento da diferença e eu mostrei que ele poderia suprir a falta do braço com técnica. Fomos desenvolvendo e tem dado certo. No regional, as pessoas olharam ele com outros olhos, com olhar diferente, mas essa é a chance de mostrar o Vinicius pro Brasil todo e tenho certeza que vou mostrar o Vinicius pro Pan-Americano", afirma o professor Gilberto Cruz, responsável pelo polo Sejel/Rancho de judô.
Gilberto também foi escolhido para ser técnico da equipe sub-13 que vai disputar o Campeonato Brasileiro na cidade de Lauro de Freitas, na Bahia. São dez judocas, entre eles os dois da Sejel, que buscam uma vaga nos campeonatos Sul-Americano e Pan-Americano. Eles receberam treinamento diferenciado e, para o professor, têm boas possibilidades de medalhas. "São crianças, mas só o fato dessa garotada sair daqui pra representar o estado já é um bom resultado. Claro que as medalhas são bem vindas, focamos nisso, mas com responsabilidade deixando eles viverem o momento deles. Não podemos cobrar", explica o treinador.
"Eu acredito em um bom resultado positivo, não sei se o campeão brasileiro ou vice-campeão, mas alguma surpresa nós vamos ter", acredita Gilberto. Rafael e Vinicius estão entre os que podem surpreender. Pra eles a maior dificuldade vai ser a falta de conhecimento sobre o estilo dos adversários. Fora isso, nem os olhares “diferentes” para Vinicius podem atrapalhar, garante o menino. "Nunca me senti diferente, nunca deixei ninguém me dizer que eu não podia. Então, qualquer criança que tenha medo ou vergonha de lutar porque tem uma deficiência eu digo que treine, que foque e supere, porque tudo é possível", incentiva o pequeno judoca rumo à sua primeira competição nacional.
Texto: Fabiana Cabral
 
								 
															 
											 
								 
															 
								 
								 
								