Andar de canoa, apanhar açaí, tomar banho de rio. Essas são apenas algumas das atividades cotidianas das crianças que moram na região das ilhas de Belém. Uma realidade diferente e que precisa ser valorizada. É nesse intuito que a Fundação Escola Bosque deu início, na manhã desta quinta-feira, 11, à Primeira Mostra Técnico-Científica e Cultural das Unidades Pedagógicas da Ilha de Cotijuba, cujo objetivo é reconhecer e divulgar os trabalhos produzidos pelos alunos da instituição, formando, dessa forma, futuros ecocidadãos.
Apresentações de carimbó e hip-hop, além de contações de história marcaram a manhã de abertura do evento. Com o tema “Apropriação da identidade Ribeirinha Amazônica”, a mostra integra as comunidades locais e instituições, inserindo-as no cenário artístico-cultural e científico da região Amazônica. “Todos os trabalhos expostos, oficinas e palestras irão fazer com que, tanto os alunos quanto a comunidade local, entenda a identidade cultural da região em que moram. Moramos na Amazônia, mas às vezes não nos sentimos parte dela”, explica o diretor geral da Escola Bosque, Fábio Martini.
Cerca de 600 alunos do ensino fundamental são atendidos pelas cinco unidades pedagógicas da Funbosque. Juliane Monteiro, de apenas oito anos, é uma das estudantes. Em meio à timidez, a jovem explicava sobre a biodiversidade da ilha de Jutuba, lugar onde reside, e o encantamento pela região era evidente em sua fala. “Eu já morei em Belém por alguns meses e não consigo me acostumar com a vida agitada que as pessoas tem lá. Eu gosto de tomar banho de rio, de ajudar minha família a fazer o açaí, de andar no meio do mato. Gosto da liberdade que a cidade grande não tem”, comenta.
Um dos trabalhos que se destacaram durante o primeiro dia de exposições foi o da professora Danielle Brito e seus alunos, que divulgaram um novo método de ensino da matemática: A etnomatemática.
“É uma estratégia de unir os saberes ribeirinhos na resolução dos problemas envolvendo as quatro operações básicas da matemática. Antes de utilizar esse método os alunos sentiam dificuldade de aprender operações simples como a soma. Então eu levei para a sala de aula uma linguagem que mais se aproximasse com a realidade deles. Por exemplo, se eu apanho cinco cachos de açaí quantos litros de açaí eu terei? Ou quantas braçadas eu utilizo para percorrer dez quilômetros? Dessa forma o desempenho dos alunos cresceu significativamente e fez com que o número de faltas diminuísse”, comemora.
De acordo com a coordenadora pedagógica da instituição, Roberta Hage, a mostra incentiva a valorização da vida ribeirinha. “Ser ribeirinho é fazer parte da cultura e história do povo paraense. É uma identidade que precisa ser valorizada para não cair no esquecimento ou até mesmo extinção desse estilo de vida”, explica.
Ainda de acordo com a coordenadora, os ribeirinhos são os primeiros a preservar o ambiente em que vivem. “É um cenário de natureza pura que precisa de olhares atentos aos cuidados com o meio ambiente. E essa educação deve começar com a própria comunidade que aqui reside e expandir-se aos centros urbanos. É uma forma de criarmos uma nova cultura em meio aos avanços tecnológicos que crescem de maneira desenfreada, devastando o meio ambiente.”, relata.
Texto: Vanessa Lago
 
								 
															 
											 
								 
															 
								 
								 
								