O primeiro Parque Linear de Belém será construído na avenida Antônio Everdosa, no perímetro entre as travessas Timbó e Alferes Costa, na Pedreira. A decisão foi tomada em plenária do Fórum Tá Selado, nesta terça-feira, 23, no auditório da Aldeia Cabana, pelos conselheiros e conselheiras representantes do bairro.
O projeto consiste na construção de espaços públicos de cultura, esporte, lazer e de oportunidade de geração de renda e trabalho. No Orçamento Municipal de 2002 já está alocada a verba de R$ 1,1 milhão para o início da obra.
Escolha popular – A construção de um parque linear foi a demanda escolhida como prioridade pelos moradores da Pedreira, no processo de participação cidadã Tá Selado, que discutiu nas plenárias por bairros e setoriais, no período de agosto a outubro, o plano de obras e serviços para o próximo ano.
Na ocasião, duas propostas de local para a obra foram apresentadas. A primeira na avenida Antônio Everdosa e a segunda na avenida Visconde de Inhaúma, entre as travessas Enéas Pinheiro e Barão do Triunfo. Sem consenso, a decisão ficou para uma nova plenária.
“Como não houve acordo entre as partes em uma reunião anterior, ficou decidido que uma plenária deveria ocorrer para que os conselheiros e conselheiras pudessem decidir o local da obra”, informou Marcos Silva, da coordenação do Tá Selado e um dos mediadores do encontro.
Debates e definição – Dos 30 representantes eleitos do bairro, compareceram 24, além de moradores das duas avenidas. Durante quase três horas, eles puderam discutiram qual seria o local mais apropriado para a obra.
Em comum acordo, as partes indicaram um representante para fazer a defesa inicial de cada proposta numa explanação individual de 10 minutos. Leni Campelo, moradora da Pedreira e conselheira da setorial Bacia do Una, explicou os motivos para o parque ser construído na Antônio Everdosa.
Conquista – “Queremos uma cidade para todos e não para poucos. O Parque Linear é uma conquista dos moradores da Pedreira, que decidiram no dia 6 de outubro pela Antônio Everdosa. Não estamos defendendo uma rua, mas queremos garantir o impacto social que vai causar na vida das pessoas. A avenida já é um espaço largo, de pouco escoamento do trânsito e de altíssima vulnerabilidade”, destacou Leni Campelo.
O conselheiro Marquinhos Santos, usando imagens da Avenida Visconde de Inhaúma projetadas em um telão, comparou as duas vias públicas e indicou qual a melhor opção.
“A Antônio Everdosa é uma importante via de escoamento do trânsito, porque liga três bairros: Pedreira, Sacramenta e Telégrafo. É alternativa à Marquês de Herval e à Pedro Miranda. Para fazer ali uma obra de parque linear, uma via de cada lado teria de ser fechada. Vai influenciar no trânsito de Belém e prejudicar a economia. Já a Visconde é uma rua local, pouco trânsito, e uma área de vulnerabilidade social, onde o tráfico de drogas impera. Crianças são reféns do tráfico. Vamos beneficiar pessoas que estão na pobreza e terão oportunidade de crescer economicamente”.
Conselheiros defendem união pelo bairro – O segundo momento da plenária foi aberto para os conselheiros e moradores que quisessem se posicionar. Ao todo, 10 se inscreveram, metade para cada proposta, com direito a três minutos de fala cada um.
Fábio Góes de Melo lembrou que “há 20 anos a Aldeia Cabana era para ser na avenida Antônio Everdosa e foi tirada de lá. Vamos aproveitar a oportunidade para desenvolver essa área que há anos está sem investimentos”.
Já o professor Paulo Sérgio Marques da Silva pediu união. “O problema não é dividir, mas pensar no coletivo do povo da Pedreira. Quem conhece as realidades da Everdosa e a da Visconde vai decidir que o parque seja levado para a Visconde.”
O conselheiro Augusto Reis, o “Guto”, defendeu o coletivo e o impacto social do parque. “Fechamos com a Antônio Everdosa, porque vai ter mais impacto social, pois pega Pedreira, Sacramenta, Telégrafo, Barreiro e Acampamento. Os espaços cultural e esportivo vão garantir trabalho e renda para os moradores locais”.
O morador e pastor luterano Nicolau Paiva disse que “a necessidade da Visconde é de projetos sociais para trabalhar com a população, para sair do bolsão da miséria”, enquanto o funcionário de empresa pública, Herlon de Paiva Souza, defendeu o parque na Avenida Antônio Everdosa e condenou a postura de alguns conselheiros. “Lutar por vaidade está errado”.
Vera Lúcia Lacerda, conselheira e morada da Visconde de Inhaúma, propôs uma nova discussão do projeto. “Temos a oportunidade de novamente discutir sobre Belém. O Dasac [Distrito Sacramenta, onde a Pedreira se localiza] está dividido. Acho pouco tempo para decidir. Estamos resgatando essa cidade que, por muito tempo, nós perdemos. Não vamos chegar a um denominador comum. Não Podemos dividir essa luta. Vamos sentar, rediscutir e trazer propostas mais amadurecidas”.
O presidente da Federação Municipal das Associações de Moradores de Belém Femamb), Sebastião Santos, o “Sabá”, elogiou a oportunidade de discutir obras para cidade que o governo municipal está proporcionando por meio do fórum Tá Selado.
“Nós estamos exercendo um direito da democracia. Desejo que seja na Antônio Everdosa, pois os moradores de lá foram expulsos pela ditadura militar”.
Um dos momentos de emoção da plenária ocorreu quando a conselheira da temática Bacia do Una, Rosires Mendes, lembrou as histórias da pastora luterana Marga Rothe e do padre João Maria, da paróquia de Nossa Senhora Aparecida, defensores das causas populares do bairro da Pedreira.
“Os nomes deles já significam a importância de nossa luta para o parque ser na Everdosa, para vencer o bolsão de miséria, como na área do Acampamento. O mais importe é manter a paz entre nós”.
A cantora Iva Rothe, filha de Marga, participou da plenária como moradora da Avenida Visconde de Inhaúma. Ela agradeceu as homenagens à mãe e lembrou sua infância naquela via pública.
“Há 40 anos, a Visconde já era uma rua sofrida. Não havia condições de se proteger as crianças do tráfico de drogas. Agora, quem está vencendo é o bairro da Pedreira, é a democracia. Não sou conselheira. Meu voto pela Visconde é simbólico”.
Encerrado o tempo para a defesa das propostas, os mediadores encaminharam o processo de votação. Os 24 conselheiros e conselheiras aptos a votar tiveram que escolher entre a proposta 1, do parque linear na Avenida Antônio Everdosa, e a proposta 2, da obra na Avenida Visconde de Inhaúma.
A apuração resultou em 12 votos para a primeira proposta, 11 para a segunda e uma abstenção.
A conselheira Vera Lucia Lacerda, que se absteve e com isso permitiu a vitória dos defensores da obra na Avenida Antônio Everdosa, justificou sua opção.
“Cada um teve a liberdade e o livre arbítrio para decidir e votar. Tenho minha consciência tranquila. Me abstive por dois motivos. Primeiro: acho que o Dasac não pode ser dividido. Segundo: nenhum dos dois projetos me agradaram”.
No final da plenária ocorreu a entrega dos certificados assinados pelo prefeito Edmilson Rodrigues aos conselheiros e conselheiras do bairro da Pedreira.
Momento positivo – Para a coordenação do Tá Selado, a plenária foi mais um momento positivo desse processo de participação popular. “O governo [municipal] veio aqui para mediar o debate, mas quem discutiu, quem avaliou, quem propôs e quem decidiu no final foi o povo. Então, esse é o grande exemplo que se tira daqui. O governo popular colocando nas mãos do povo a decisão dos encaminhamentos em relação ao Orçamento da cidade”, concluiu Marcos Silva.
Hélio Oliveira, um dos coordenadores, considerou que os conselheiros e conselheiras da Pedreira exerceram a verdadeira cidadania. “O povo decidiu uma das principais obras da cidade, no centro do coração do bairro da Pedreira. Parabenizamos cada um e cada uma, que nesse processo de quase 10 meses de participação, se mobilizaram, se organizaram e foram eleitos e eleitas delegados e conselheiros, e chegaram à decisão dessa obra tão importante para o Dasac, para a Pedreira e para a cidade de Belém”.
Texto: Álvaro Vinente
 
								 
															 
											 
								 
															 
								 
								 
								