Prefeitura reforça prevenção e amplia diagnósticos urológicos

Com atendimento especializado e triagem prévia, mutirão pelo "Novembro Azul" acelera diagnósticos, reduz a demanda reprimida, e amplia o acesso à urologia

“Pra gente, essa consulta é sinônimo de esperança”, afirmou a agente comunitária de saúde Eduarda Valino. Ela e a mãe, a pedagoga Angélica, acompanharam o patriarca da família, Leonam, 66 anos, durante a segunda etapa do mutirão de urologia, em alusão ao Novembro Azul, promovida neste sábado (22), pela Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma).

O mutirão, realizado em parceria com o Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), encerrou a programação iniciada no último dia 15 de novembro, quando ocorreu a primeira etapa, voltada à realização de exames de rastreio, como PSA e ultrassonografia, o que possibilitou a cada paciente chegar à consulta com informações essenciais para a definição do diagnóstico médico. A estratégia contribuiu para encurtar o tempo entre suspeita e diagnóstico.

Morador do Distrito de Mosqueiro, o agente de saúde Leonam aguardava há sete meses pela consulta com o urologista e foi um dos pacientes contemplados pela iniciativa. Após passar por um AVC, Leonam notou um inchaço incomum na próstata e logo não conseguia mais urinar, o que causava mal-estar, dores e febre. Logo, Leonam precisou contar com a ajuda de uma sonda para conseguir urinar. 

A família conta que o paciente era muito ativo, e que com a sonda, ficou limitado. A expectativa é a de que após a consulta, logo seja realizado o encaminhamento para a cirurgia, necessária para devolver qualidade de vida ao paciente.

“É muito importante fazer o acompanhamento com profissionais de saúde. Eu não dava muita atenção, mas hoje eu vejo o valor. Não dá para esperar chegar num ponto extremo, como eu cheguei, de precisar usar sonda”, alerta Leonam.

Angélica, Leonam e Eduarda Valino durante a segunda etapa do mutirão de urologia no HUJBB.

Assim como Leonam, outros 90 pacientes da fila de regulação municipal foram atendidos. O mutirão reduziu a demanda reprimida e agilizou casos que, pela rotina habitual da rede, levariam mais tempo para ser solucionados. A seleção dos usuários considerou fatores como tempo de espera e sinais sugestivos de tumores na próstata, bexiga, rins e vias urinárias.

A diretora do Departamento de Regulação da Sesma (DERE), Thalita Fernandes, explica: “Foram priorizados pacientes com PSA elevado, indícios de hiperplasia prostática, alterações urinárias e ultrassons anteriores com suspeitas. Esses eram os cadastros que mais precisavam de avaliação imediata”.

A diretora do Departamento de Regulação da Sesma,Thalita Fernandes, destacou o impacto do mutirão na redução da fila de espera da regulação municipal.

Os casos que exigem continuidade do cuidado especializado seguirão acompanhados pelo HUJBB, que possui estrutura para investigação e tratamento oncológico. Situações de rotina retornarão à Unidade Básica de Saúde (UBS) de origem, para seguimento regular.

Novembro Azul em Belém

A campanha Novembro Azul reforça a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, fundamentais para evitar complicações que afetam a qualidade de vida dos homens. Em Belém, a programação intensificou acolhimentos, consultas preventivas, avaliações cardiovasculares, rastreamento de diabetes e hipertensão, além de ações educativas em todas as UBSs. O mutirão integra esse esforço, aproximando a população masculina de serviços especializados e fortalecendo a linha de cuidado.

Além do câncer de próstata, a urologia engloba diversas doenças relacionadas ao trato urinário e reprodutivo masculino. O urologista do HUJBB, Rui Salgado, destaca que a Região Norte apresenta índices elevados de câncer de pênis, associados a fatores sociais e de higiene. “A falta de higiene é o principal fator. O HPV também pode levar ao câncer de pênis, embora com menor frequência”, explica.

O estagiário em pedagogia, Keverton Pires, 22, contou que esta é a primeira vez que que vai ao urologista.

“Meu avô faleceu de câncer de próstata, então vim me cuidar. É a minha primeira consulta com o urologista, e eu estou esperando desde abril. Sinto um incômodo por causa de um excesso de pele que precisa ser removido, e isso dificulta a higiene. Esse atendimento vai ajudar muito.”, disse Keverton.

Estigma e barreiras culturais

A busca por cuidados urológicos ainda enfrenta barreiras, muitas delas associadas ao tabu do exame de toque retal e ao medo de diagnóstico. A mudança cultural avança gradualmente, impulsionada por campanhas educativas e pelo apoio das mulheres da família, que costumam estimular os homens a procurar atendimento. A recomendação permanece: exame anual a partir dos 50 anos, ou dos 45, em casos de risco aumentado.

O caminhoneiro aposentado José Paiva, 65 anos, atendido no mutirão, reforça a importância do acompanhamento regular. Ele trata hiperplasia prostática benigna, condição que causa dificuldade para urinar. “É preconceito e é bobeira. O urologista não vê só a próstata. Trata um monte de coisas que muita gente nem imagina”, afirma.

O aposentado José Paiva participou do mutirão e destacou a importância do acompanhamento anual.

Atenção básica: porta de entrada para o cuidado

A atenção básica é o primeiro ponto de cuidado da rede municipal. Nas UBSs, os homens encontram acolhimento, escuta qualificada, exames de rotina, atualização vacinal, acompanhamento de doenças crônicas e orientações de autocuidado.

Sintomas como dificuldade para urinar, dor, alterações no jato urinário, lesões genitais ou qualquer mudança incomum devem motivar busca imediata pela unidade. Mesmo sem sintomas, a visita anual é indispensável para prevenir o avanço de doenças silenciosas.

A Referência Técnica em Saúde do Homem da Sesma, Maisa Falcão, ressalta que a secretaria segue os princípios da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem.

“Fortalecemos o acolhimento nas UBSs com exames preliminares, incentivo ao pré-natal do parceiro, vacinação, saúde bucal, combate ao tabagismo e busca ativa em locais onde os homens estão, como empresas e ambientes de trabalho. Também contamos com agentes comunitários de saúde para orientar aqueles que quase não frequentam a unidade. O objetivo é facilitar o acesso e iniciar a linha de cuidado o mais cedo possível”, explica a médica.

A Referência Técnica em Saúde do Homem da Sesma, Maisa Falcão, destacou as estratégias da Sesma para ampliar o acesso e fortalecer a linha de cuidado da saúde do homem.

Como acessar os serviços da rede municipal

O cuidado começa na UBS mais próxima, onde o usuário pode se cadastrar, mesmo sem sintomas, e iniciar o acompanhamento anual. Caso apresente sinais de alerta, deve buscar atendimento de imediato. Médicos, enfermeiros e assistentes sociais avaliam cada situação, orientam sobre prevenção e encaminham para a urologia quando necessário.

Mesmo para quem tem rotina intensa, a consulta anual representa um gesto simples, mas decisivo para manter a saúde em dia e garantir diagnóstico precoce.

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