Professores de rede municipal iniciam diálogo sobre educação antirracista em Belém

Com a criação da Coordenadoria da Educação para as Relações Étnico-Raciais (Coderer), a Secretaria Municipal de Educação (Semec) iniciou nesta quarta-feira, 14, o primeiro diálogo formativo com professores municipais. O encontro foi transmitido pelo canal do Núcleo de Informática Educativa (Nied), da Semec, no YouTube.

O professor de História, Ataíde Junior, pesquisador dos conhecimentos tradicionais, como a cultura Iorubá, da África, que faz parte da herança cultural do Brasil. Ele narrou um Ìtàn – história mítica para ensinamento de princípios éticos e morais – de Ikú, que mostra que a sabedoria ancestral ensina a resolver problemas com a união, fortalecendo a comunidade para enfrentar os desafios que vão surgindo na vida.

A diretora geral da Semec, Araceli Lemos, deu as boas-vindas aos professores destacando a importância da nova coordenadoria na revolução que a educação municipal deseja promover. “É uma alegria ver a criação desta nova coordenadoria, uma das mais importantes na atualidade. Pensar a educação é romper com as amarras que ainda existem na sociedade que desconhece a verdadeira história do Brasil. Pela educação vamos fortalecer esta consciência e assim, naturalmente, a luta mundial”, disse a historiadora ao representar a secretária de Educação, Márcia Bittencourt.

Mesa 1 – Com o tema “Dados da diagnose: principais apontamentos”, a pedagoga Marcela Silva e o professor de História, Pedro Fonteles, apresentaram o relatório parcial feito com 125, das 204 unidades educativas com a escuta de 1.266 professores.

Perfil – Marcela Silva relatou que 60% dos professores da rede que trabalham a temática são da educação geral. Os demais são professores especialistas com porcentagens menores que 7%. Desses, 66,3% se declararam pardos, 18,1% brancos, 14% pretos, 0,6% indígenas, 1,1% cor amarela. A pesquisa registrou que 52,7% das escolas possuem a temática no projeto político-pedagógico, 48,8% no planejamento de aula, 35% no planejamento anual, 6,8% no regimento escolar, 2,3% outros documentos, e 7% em nenhum.

Mapa – Pedro Fonteles apresentou dados que mapeiam a formação dos educadores em Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER). Na graduação, 46,6% estudaram a temática. Na pós-graduação, 64,2% fizeram especialização, 30,5% têm aperfeiçoamento, 5,3% têm mestrado e 2,1% têm doutorado. E 55,9% responderam que não participaram de eventos científicos. Com relação ao nível de conhecimento da legislação nº 10.639/03 e nº 11.645/08 que obriga o ensino da cultura afro-brasileira, africana e indígena, 46,1% responderam que possuem este conhecimento. Desses, 4% com nível elevado, 57,3% razoável e 38,5% insuficiente. Também foi possível perceber que 45% das escolas tratam da cultura africana e afro-brasileira, sendo 66% dessas somente em datas comemorativas.

“O nosso desafio é pensar na escola como um ambiente acolhedor e provedor de uma cultura antirracista, tendo como elemento fundamental o protagonismo do povo na construção da sua identidade. E a formação dos educadores da Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER) é fundamental”, disse o professor.

Mesa 2 – Com o tema “A educação antirracista no município de Belém e seus aspectos legais”, com a participação da professora Elza Rodrigues, responsável pela Coordenadoria Antirracista de Belém (COANT), a liderança indígena Wender Tembé, responsável pela Coordenadoria da Educação para Indígenas, Imigrantes e Refugiados (Ceiir), da Semec, e a professora Sinara Dias, responsável pela Coderer.

Após contextualizar o movimento negro, Elza Rodrigues destacou que “a escola tem que resignificar o papel da África e dos afro-brasileiros. A educação antirracista vai além de aplicar as leis vigentes, envolve dimensões como o currículo, formação docente, ambiente, gestão e metodologia.”

O professor Wender Tembé, liderança indígena do Alto Rio Guamá, destacou que a história dos povos indígenas é muito complexa no país. “Quando se fala de um governo que ataca e extermina o direito dos povos indígenas, a gente se sente muito oprimido. Mas temos sonhos também de ter uma educação diferenciada, de qualidade, multilíngue. Estamos à disposição para acolher os nossos irmãos na educação indígena, imigrantes e refugiados”, disse emocionado.

A professora Sinara Dias, responsável pela Coderer, também reforçou que a diagnose da coordenadoria mostra que, quando os professores são questionados sobre os temas que gostariam de ter nas próximas formações, a maioria não sabe pontuar, mostrando um real desconhecimento sobre essa temática.

“As nossas atividades vão focar a formação permanente dos educadores, que vai além do professor, são todos os profissionais que estão no ambiente escolar. Com a perspectiva da educação antirracista, com a parceria das outras coordenadorias da Semec, conselhos de classe e movimentos sociais”, disse Sinara.

O evento foi mediado pela professora Érica Ferreira, coordenadora do Departamento de Educação Física, da Semec. O encontro contou com as intérpretes de Libras, Tatiana Mota e Jéssica Silva, e ficará disponível no canal do Núcleo de Informativa Educativa (Nied), da Semec, no YouTube.

Texto: Tábita Oliveira

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