"Quero ser advogada". Paula Cristina Borges da Silva, 10 anos, não precisou nem pensar para responder sobre o que pretende ser quando crescer. Ela não soube explicar os motivos da escolha, só tem certeza que é isso o que quer, assim como também está certa de que vai continuar jogando futsal. Paulinha é uma das cerca de 200 crianças atendidas no Programa Escola de Esporte, que tem como principal polo de atividades o ginásio Altino Pimenta, que sediou a competição preparatória para o Torneio do Dia das Crianças, no fim de semana. O evento reuniu alunos de seis a 16 anos, com a intenção de aumentar a interação entre os grupos e observar os resultados do trabalho que vem sendo realizado pela prefeitura.
"Nosso maior objetivo é a interação dos alunos, a sociabilidade que a gente busca. Então, dividimos as equipes equiparando tecnicamente para que uma não se destaque mais que a outra. Em seguida, observamos a parte técnica. No torneio é diferente das aulas e fica mais fácil avaliar esse quesito, porque alguns sob pressão conseguem se destacar e esses a gente acaba levando para nossas equipes de competição", explicou o professor Raimundo Pereira.
Foi esse o caso da a futura advogada Paulinha. A habilidade da atleta chamou a atenção dos professores que a convocaram para fazer parte da equipe que disputa o Campeonato Paraense de futsal sub 11. Paula foi a primeira menina na história do futsal do Pará a jogar uma competição oficial em um time formado por garotos. "Desde o ano passado a gente vem tirando das escolinhas vários atletas para formar nossas equipes. Geralmente essas crianças querem ir para Paysandu, Remo e Tuna que são a referência do futsal, e a gente está conseguindo fazer boas equipes através dos alunos da escolinha”, complementou o professor.
A competição realizada na última sexta-feira, 25, teve a participação de 12 equipes em mais de 20 jogos acompanhados pela torcida de pais, irmãos e avós. O vigilante Adriano dos Santos Mineiro tirou o dia para torcer pelo filho, Adrian, de 9 anos, há um ano e meio no Programa Escola de Esportes, e pela enteada Kamile, umas das três meninas que fazem parte da escolinha. "Esse é um projeto muito interessante que, graças a Deus, vem tirando as crianças da rua e trabalhando com o social. É importante para quem não tem condições de pagar uma escola, mas quer dar uma opção para a criança ocupar o tempo dela quando não está estudando. Eu penso que, no futuro, essa atividade vai ajudar meus filhos não só na parte do desenvolvimento do corpo, como atletas, mas como pessoas mais responsáveis com suas ações", pontuou o vigilante.
Esse é exatamente o objetivo da equipe técnica responsável pelo polo Altino Pimenta, como explicou a assistente social, Anne Almeida. "Aqui a gente não forma apenas o atleta, estamos trabalhando na formação de cidadãos. Priorizamos o trabalho em equipe, a união e, principalmente, o respeito entre eles e o com o outro. O resultado disso é perceptível até quando eles chegam para nos procurar, batem na porta e pedem licença, coisa simples que a maioria não tinha o hábito de fazer quando chegou ao programa", relatou a assistente.
Para alcançar os bons resultados a participação da família é considerada fundamental. Por isso, elas são chamadas a fazer parte de uma série de atividades que vão além das aulas diárias na quadra do ginásio. A cada três meses são realizadas reuniões que discutem temas escolhidos pelos próprios pais e que avaliam o desenvolvimento das crianças tanto em casa quanto na escola. Todos os meses o grupo se reúne para festejar os aniversariantes do período e há, ainda, os torneios que permitem estreitar ainda mais esses laços.
"É uma forma da gente interagir com os alunos de todos os turnos, todas as idades e uma forma de desenvolver a cultura de paz, porque muitos moram até no mesmo bairro, sequer se conhecem, mas têm uma rivalidade. E quando eles vêm pra cá, participar das atividades a gente acaba um pouco com isso e atrai também a família, trazendo para mais perto do trabalho da prefeitura. Nesse torneio a gente acabou colocando um responsável como técnico de cada equipe pra que ele se coloque no lugar da gente enquanto equipe técnica, pra saber como ele se comporta, o que ele faria no nosso lugar. Tudo para colocar a família mais perto de todo esse processo", detalhou Anne.
O resultado é considerado bastante positivo. Dona Olgarina, avó da Paulinha, foi levar a menina enquanto os pais dela estavam no trabalho. Adriano, o vigilante, também estava lá depois de uma noite inteira de trabalho. Seu Pedro era técnico e, além de orientar o time do filho, incentivava todas as crianças em quadra. Todos pelo mesmo objetivo: ajudar a transformar os sonhos de suas crianças e adolescentes em realidade."Ela sonha em ser advogada, mas não abre mão de continuar jogando. Ela gosta, é uma coisa dela. O avô incentivou muito, e a família toda continua incentivando", entusiasma-se dona Olgarina.
Texto: Fabiana Cabral