Resiliência de gari paraense vira inspiração nacional

Em setembro de 2020, a vida de Anne Caroline Tavares, 29 anos, mudou. Agente de serviços urbanos concursada da Prefeitura Municipal de Belém há 9 anos, ela teve sua história de vida repercutida em vários sites e perfis de redes sociais nacionais.

"O que mais me deixou feliz foi perceber a representatividade da minha classe trabalhadora, de gari. Vi muitos outros garis orgulhosos ao conhecerem minha trajetória, tanto de Belém quanto de outros estados do Brasil. Recebi convites para entrevistas e lives", revela Anne.

O início – Incentivada por uma amiga, Anne fez o concurso para agentes de serviços urbanos com o objetivo de ter uma estabilidade financeira, e conseguir pagar o curso de Educação Física, à época. Foi difícil ela se acostumar com a invisibilidade da classe e o preconceito sofrido diariamente. "Uma vez eu estava varrendo a rua e uma senhora parou e disse: "Ah, minha filha, vá estudar para ser uma advogada, você é tão bonita". Na mesma hora olhei pra ela, sorri, e disse: "muito obrigada, senhora. Mas já estou quase concluindo o meu curso, e serei professora de Educação Física. As pessoas têm esse preconceito de achar que os garis são analfabetos e isso precisa ser mudado", desabafa a profissional.

Educação Física e inclusão social – Anne não varreu a discriminação pra debaixo dos tapetes, sacudiu a poeira e construiu uma história que serve de inspiração para muitos. Hoje, se ela voltar a encontrar a senhora que um dia lhe parou na rua perguntando o porquê de não estudar para ser uma advogada, Anne já poderá dizer que é uma profissional de Educação Física, que dá aulas particulares de natação infantil e hidroginástica. E ainda é árbitra da Federação Paraense de Voleibol, atuando dentro da área com a qual sempre sonhou. Continua sendo gari, com muito orgulho. Mas agora é fiscal do serviço de seus companheiros.

Mas a história de bravura ainda está longe de terminar. "Tenho dois grandes sonhos: o primeiro é um dia poder ver a nossa classe valorizada, tanto na questão financeira, quanto no respeito social. O segundo é conseguir ter o meu próprio espaço pra ministrar as minhas aulas de natação, hidroginástica e futsal. Poder levar qualidade de vida para a população, gerar empregos e criar um projeto social para aqueles que não têm condições de pagar ou acessar um espaço esportivo", confessa a gari.

"Mesmo com muitos avanços positivos na vida das mulheres em meio ao patriarcado, vejo que ainda precisamos de muito mais.
Ainda somos desvalorizadas, tanto como mulheres, quanto como profissionais. Que esse 8 de março seja de motivaçao pra todas as mulheres se orgulharem e continuarem a lutar por respeito e igualdade", destaca Anne.

Texto: Syanne Neno

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