Semec acolhe estudantes no retorno às aulas da Educação de Jovens, Adultos e Idosos

“Palavra não é privilégio de algumas pessoas, mas direito de todos” é o que afirmava o educador Paulo Freire e o que inspira a Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semec), a reabrir as turmas da Educação de Jovens, Adultos e Idosos (Ejai), destinadas às pessoas que não tiveram oportunidade de frequentar a escola no tempo regular. As aulas foram reiniciadas presencialmente nesta segunda-feira (27) cumprindo todos os protocolos de proteção contra a covid-19.

Este é o caso de Maura Moraes, de 28 anos, estudante da 2ª Totalidade da Ejai na Escola Municipal Josino Viana, localizada na Pedreira. “Morava em Anajás, no Marajó, e lá o estudo era muito difícil. Acordava às 4h, andava uma hora e meia para pegar o barco para poder chegar na escola e nem sempre tinha aula. Às vezes tinha uma aula no mês”, conta Maura, que só retornou à escola quando veio morar em Belém.

“Para mim é uma felicidade imensa poder voltar agora para terminar meu estudo e realizar meu sonho. Comecei a trabalhar em hotelaria há pouco tempo e preciso saber pelo menos duas línguas. Quero terminar meus estudos aqui e me formar em hotelaria e ajudar a minha família, meu filho de 3 anos”, completa Maura, que conta com a ajuda do marido em casa. “É bem corrido o meu dia, mas quando levo atividade para casa ele me ajuda bastante. Vale a pena o esforço”, disse, empolgada com o retorno das aulas presenciais.

Natural do Maranhão, José Luiz Eloi da Silva, 69 anos, é estudante da 4ª Totalidade da Ejai, na Escola Josino Viana. Na época que fecharam as turmas da Ejai, José foi um dos alunos a ir até a Semec reivindicar seu direito à educação.

Ele vive desde os 19 anos em Belém, quando veio trabalhar no seu primeiro emprego. Há três anos retornou à escola, acompanhado da esposa, da filha e do genro. "Quero chegar à universidade. Gosto muito de contar a coisas do passado. É muito importante a juventude saber mais sua história", afirmou José, que escreveu uma história baseada nas lendas indígenas contadas pela mãe na infância dele.

Retorno – As turmas de Ejai da rede municipal de ensino de Belém retornaram às aulas presenciais nos últimos dias 20 e 27 e a secretária municipal de educação, professora doutora Márcia Bittencourt acompanhou a acolhida dos estudantes. A Escola Josino Viana preparou uma programação especial com poesia, contação de história e música com a participação da escritora Telma Cunha, cadeirante que só foi alfabetizada aos 20 anos, do escritor Juraci Siqueira e da professora Cris Rodrigues, técnica formadora da Ejai.

"É uma alegria enorme receber estes estudantes. Quando chegamos à secretaria várias turmas da EJA estavam fechadas. Não tínhamos coordenadoria e resolvemos reabrir as turmas. Colocar um coordenador, um professor custa mais do que o que recebemos do Ministério da Educação, mas o nosso prefeito tem um compromisso de manter as turmas da EJA”, destacou Márcia, parabenizando os estudantes no retorno das aulas presenciais. Concluídos os estudos, eles poderão seguir para o ensino médio e depois partir para o ensino superior.

Atualmente, a rede municipal de ensino atende alunos da Ejai em 28 escolas da área urbana e seis escolas da área insular. Um total são 158 turmas ofertadas. No ensino fundamental da Ejai há 4.677 estudantes matriculados, dos quais 106 com deficiência.

Meta é alfabetizar 11 mil

A Ejai integra as ações pedagógicas no Grupo de Trabalho do Centenário de Paulo Freire, que coordena as ações de alfabetização de mais de 11 mil pessoas em parceria com outras instituições da Prefeitura de Belém, com entidades dos movimentos sociais e com universidades.

A coordenadora da Ejai, professora Taíssa Barbosa, anunciou no evento que este ano serão lançadas duas turmas de alfabetização para pessoas em situação de rua. “Porque todos têm direito à educação", disse.

Gorete Cristina Lima Oliveira, professora há dez anos na modalidade, acrescenta: “O aluno da Ejai vem de uma jornada de trabalho, então é preciso desenvolver atividades que despertem a vontade de estudar. E aqui não existe saber maior ou menor. É uma partilha de saberes. O aluno da Ejai tem uma bagagem social e cultural. A gente ensina e aprende junto a cada momento”.

Educação é via de mão dupla, ensina a professora, inspirada em Paulo Freire, que disse: “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.

Texto: Tábita Oliveira

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