Devido à pandemia, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), por meio da sua plataforma digital, constatou entre os adolescentes a necessidade de falar sobre saúde mental. E a partir de indicadores de órgãos de saúde e assistência social por territórios, o Unicef, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (Semec) promoveu de 27 de setembro a 01 de outubro uma série de atividades para adolescentes do bairro do Tapanã.
Os encontros foram realizados no auditório da EMEF Gabriel Lage da Silva e contou com 18 adolescentes da rede de ensino municipal, estadual e de instituições socioeducativas.
“Este ano, investimos no canal de ajuda ‘Pode Falar' e em atividades presenciais ao mesmo tempo, para falar sobre saúde mental nos territórios. Essa é uma articulação com a Semec, Sesma, Funpapa, e Seduc em celebração ao marco Setembro Amarelo de prevenção ao suicídio. A escola é um espaço de 90% de atuação desse processo, uma vez que, a adolescência é vivida dentro do ambiente escolar”, disse Rayane França, oficial do programa de cidadania para os adolescente no território da Amazônia, do Unicef.
A estratégia é enfrentar a cultura do fracasso escolar e, consequentemente, da evasão escolar. “Queremos que os adolescentes entendam que a escola é um espaço deles, para ser construídos por eles, e que sejam multiplicadores de ações e projetos para eles”, disse Rayane, que vai estender essa experiência para outros bairros da capital e outras cidades da Amazônia.
“Autocuidado, autoestima, autoconfiança e protagonismo juvenil foram alguns pontos destacados para os adolescentes. Fizemos atividades por meio da escuta ativa para que eles possam pensar ações e projetos para eles. Assim eles se sentiram mais valorizados e interagiram mais. Tivemos três adolescentes da etnia Warao da rede municipal”, relata o técnico de referência do Programa Saúde na Escola, Fabrício Moraes. O programa é promovido pela Coordenação Integrada da Educação e Saúde, da Semec.
Os adolescentes construíram um plano de ajuda respondendo a questionamentos pessoais. Os amigos, avós, e educadores foram apontados como as pessoas com quem os adolescentes mais se sentem à vontade para pedir ajuda. Eles também puderam falar sobre o que gostam de fazer; o que não gostam de fazer mas tem que fazer e claro, o que não gostam de fazer. No último dia, os adolescentes tiveram a oportunidade de criar ações de engajamento entre eles.
Felipe Barros, de 14 anos, estudante do 7º ano da EMEF Gabriel Lage da Silva, apresentou junto com os colegas o projeto “Papo reto: de adolescente para adolescente” e conta que foi muito prazeroso participar da atividade. “Aprendi muito com esses profissionais que nos deixaram à vontade pra gente se expressar. E é muito importante para ganharmos voz na escola e na comunidade. A gente tem muitos planos pra colocar em prática.O nosso projeto está focado nas redes sociais. Vamos falar de vários temas com os outros adolescentes e também pensamos numa rádio escolar” contou o estudante.
Os colegas de escola, Isabele dos Santos Silva e John Manoel de Carvalho Farias, ambos de 12 anos, estudantes do sétimo ano, também gostaram da programação. “Achei muito legal, porque eles vão ensinando a gente a conviver melhor com os pais, com os amigos”, disse Isabele. “O ponto principal foi a questão do autocuidado. Aprendi o quanto é importante o autocuidado para a minha saúde mental, física, e espiritual”, completou John.
A programação também contou com a participação de profissionais de saúde, educação e assistência social que tiveram a oportunidade de dialogar com a psicóloga Rose Dayse Nascimento, do Hospital Universitário Betina Ferro. Ela destacou que é preciso falar sobre saúde mental tanto na escola quanto em casa.
“É preciso fazer uma projeção, ou seja, uma relação de identificação com filmes, por exemplo, que os adolescentes se identifiquem com histórias de personagens, sem fazer julgamento. E comunicar a família, ou pelo menos a um parente que o adolescente confie. Mas você não pode chegar criticando o filho para os pais. A gente sempre reforça os aspectos positivos do filho pra depois dizer o problema”, disse Rose orientando os professores.
A professora Marialva da Luz Palheta, que há 25 anos atua na EMEF Gabriel Lage da Silva elogiou a ação e participação dos profissionais e estudantes. “Foi muito esclarecedor para saber a quais órgãos podemos solicitar ajuda. E uma formação como essa é essencial. Aqui no bairro temos muitos adolescentes com grande potencial e aqui é uma área de risco de muita carência. A escola acaba sendo esse espaço de acolhimento”, disse a professora.
Texto: Tábita Oliveira