A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que começa na próxima semana, em Belém, mobilizou as escolas municipais com atividades voltadas à temática ambiental. Ações como debates, caminhadas, oficinas, exposições, apresentações artísticas e outros projetos que promovem contato direto com a natureza, como é o caso dos viveiros e das hortas escolares, têm ajudado na formação de uma maior consciência ambiental entre os alunos.
Na Escola Municipal Helder Fialho Dias, em Outeiro, por exemplo, os alunos se tornaram agentes na luta contra as mudanças climáticas por meio do projeto “Viveiro Educador”. Criado a partir da Conferência Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, realizada na escola este ano, o projeto tem como um dos objetivos plantar árvores para sequestrar carbono e reduzir os efeitos das mudanças climáticas.
O sequestro de carbono é um conceito atual e central na discussão sobre o clima. Ele consiste no processo de captura e armazenamento de dióxido de carbono (CO2), um dos causadores do efeito estufa. O fenômeno ocorre naturalmente por meio da fotossíntese, daí a importância da preservação das florestas.
Crédito: Luís Miranda

“Para plantar árvores, você precisa das mudas. Então, criar o viveiro era um passo desse trabalho maior. A ideia é plantar frutíferas e algumas (espécies) para arborização urbana, coisas que caibam num quintal ou na rua”, explica um dos coordenadores do projeto, o professor de Geografia Mauro Torres.
“Ainda estamos no começo. A ideia é expandir e, no fim do ano, sair com essas mudas: uma parte vai ser doada para os próprios alunos plantarem nas suas casas, e outra a gente vai plantar nas ruas no entorno da escola”, completa o professor.
Crédito: Luís Miranda

A aluna do 9º ano Vitória da Silva, de 15 anos, é uma das participantes do projeto. Para ela, o principal aprendizado que o viveiro proporciona é o de como cuidar do meio ambiente.
“O benefício, para mim, é a nossa aprendizagem. com isso: levar para outras pessoas que ainda não conhecem. E a gente aprendeu muito sobre tipos de árvores e como cuidar do nosso lar, do nosso meio ambiente”, diz a estudante.
Crédito: Luís Miranda

Vitória também representa a sua escola e o distrito de Outeiro como embaixadora pelo Meio Ambiente, uma iniciativa que integra a Política de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia (Semec), que incentiva o protagonismo dos estudantes no debate sobre o clima, o que também é um dos objetivos do “Viveiro Educador”.
O professor Mauro Torres conta que atualmente no projeto tem 30 alunos sendo formados como “agentes monitores”, que posteriormente vão formar outros estudantes no “Viveiro Educador”. “Estamos formando os alunos monitores ambientais, que é um outro projeto. Vai ser aluno educando aluno. E a formação é na prática, eles aprendem fazendo”, explica o coordenador.
Crédito: Luís Miranda

A experiência de Vitória demonstra que iniciativas como a do “Viveiro Educador” são o incentivo que crianças e jovens precisam para se engajar no debate e nas ações em defesa do meio ambiente. “Eu gosto muito de participar das atividades aqui do Viveiro. Porque, além de ser uma atividade criativa, a gente aprende e leva para os nossos colegas e para outras gerações”, afirma Vitória.
Horta escolar integrando sustentabilidade e saberes ancestrais
Na Escola Municipal de Educação no Campo Milton Monte, localizada na Ilha do Combu, em Belém, sempre existiu a horta escolar. Durante muito tempo, se plantava verduras e legumes. Hoje a horta é medicinal e foi plantada pelas próprias crianças, que também são as responsáveis pela sua manutenção, numa iniciativa que une ensino, pesquisa, saberes tradicionais, experiência sensorial e conscientização ambiental.
A professora Thamires Trindade é a responsável por conduzir o cultivo da horta pelas suas turmas da educação infantil. “A ideia era a gente trabalhar as ervas medicinais, que é uma coisa muito presente na cultura ribeirinha, que antigamente era o que eles tinham de farmácia, mas que está sendo deixado de lado pela comunidade”, explica a professora.
Antes de plantar, os alunos foram visitar uma moradora da ilha para conhecer a variedade e a importância de cada planta. “Lá eles conheceram ervas como o alecrim, o vick, sentiram, tocaram, vivenciaram várias plantas”, lembra.
A proposta da horta medicinal surgiu a partir de outro projeto “Quintais Pedagógicos”, que tem como proposta fazer dos quintais dos próprios moradores das ilhas um laboratório de aprendizado para os alunos. Depois da visita que fizeram, os alunos da Milton Monte escolheram no seu próprio quintal uma erva para levar e plantar na escola, e assim a horta medicinal da escola ganhou vida.
Crédito: Acervo pessoal

Thamires conta que todos os dias leva as suas turmas na horta. Lá eles fazem a irrigação, reviram a terra e verificam o desenvolvimento das plantas como um todo. E as crianças são unânimes ao afirmar o quanto gostam desse momento da aula. “É legal, a gente pode brincar. A gente planta plantinha, a gente brinca e também a gente estuda”, afirma a pequena Ariely da Silva, de 5 anos, aluna do Jardim I.
Um dos destaques da iniciativa é a valorização dos saberes populares ancestrais da comunidade, que está sendo repassado para as novas gerações. Ícaro Farias, de 6 anos, aluno do Jardim II, já aprendeu para que serve a babosa. “Serve pra passar no cabelo”, contou.
Crédito: Élida Miranda

Assim como Ícaro, a Júlia da Silva, de 5 anos, do Jardim II, aprendeu para que serve o gengibre que trouxe de casa para plantar na escola. “É bom pra dor de cabeça e dor de barriga”, disse a aluna. “A gente planta, a gente rega, a gente cuida das plantinhas. A gente tem que cuidar, porque senão elas podem morrer”, explica Júlia.
O diretor da escola, Elison Ferreira, conta que o plano é ampliar a iniciativa na Milton Monte. “Aqui nós vamos trabalhar quatro vertentes. A horta medicinal, que já está ativa; vamos ter a horta hidropônica, que vai trabalhar com hortaliças e leguminosas; vamos trabalhar com produção de mudas nativas, que traz a questão da responsabilidade com a preservação e o reflorestamento; e nós vamos trabalhar também com plantas ornamentais, para incentivar a geração de renda entre as famílias da comunidade”, explica o diretor.
Crédito: Luís Miranda

Crédito: Luís Miranda

“Isso tem uma importância ambiental muito grande, porque eles começam a ter a noção de que para a gente ter, a gente precisa cuidar”, destaca a professora Thamires, sobre um dos muitos benefícios pedagógicos das hortas e viveiros escolares. Ela demonstra que o conhecimento trabalhado nesses ambientes pode gerar um impacto que vai muito além da escola, interferindo positivamente na visão de mundo e nas atitudes dos estudantes.